segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A Mariologia do Evangelho de Marcos



O Evangelho segundo São Marcos é o mais antigo, foi escrito entre os anos 66 – 73 d.C. A “mariologia” apresentada nesse Evangelho é ainda minúscula. São Marcos faz apenas duas referências diretas à pessoa de Maria: Mc 3, 31-35 e Mc 6,1-3. Há pessoas que tomam esses textos procurando legitimar certa depreciação da Virgem Maria. No entanto, essa interpretação não se sustenta quando lemos estes textos conjuntamente: Mc 3, 31-35:

Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe:’Tua mãe e teu irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram’. Ele respondeu: ‘Quem é minha mãe ? Quem são meus irmãos?’ E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu redor, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe

Nesta passagem, o evangelista mostra-nos Jesus afastando-se de sua família de sangue e dando ênfase a um parentesco espiritual, e indica que esse novo parentesco fundamenta-se na busca em fazer a vontade do Pai. Esta temática será aplicada a Maria que primeiro cumpriu vontade de Deus fazendo-se serva do Altíssimo (cf. Lc 1, 38). De qualquer modo, não há nada na seguinte passagem que indique que Jesus tenha rechaçado sua mãe como se ela não realizasse a vontade de Deus, o essencial é a ruptura com a mentalidade de família sustentada por laços de sangue. Em Mc 3, 20s, vemos que família de Jesus o considera enlouquecido mediante tudo o que ele vem realizando. Isto justifica o fato da família ir ao seu encontro, mas não se misturar com a multidão. Duas vezes se diz que a família estava do lado de fora e uma vez se afirma que a família é quem está sentado aos pés de Jesus escutando e crendo em sua palavra.
A outra passagem do Evangelho segundo São Marcos é: 

Saindo dali, Jesus foi para sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, ele começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se admiravam “De onde lhe vem isso?’ diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?’ E ele se tornou para eles uma pedra de tropeço (Mc 6, 1-3). 

Aqui Jesus é rejeitado pelos seus, por aqueles que o conheciam provavelmente desde criança, afinal ele não é ninguém mais do que o filho de Maria . De acordo com Dom Murilo Krieger o que aconteceu foi que “o conhecimento de Jesus segundo a carne ofusca o conhecimento segundo o Espírito”. A Expressão filho de Maria significaria: “o que tem ele de especial, afinal ele não é um de nós, uma pessoa qualquer?” São Marcos apresenta-nos Maria, sobretudo como mãe que se preocupa e teme pelo que possa vir a acontecer com seu filho amado uma vez que não entende o que ele está a realizar. É um erro supor – como muitos fazem – que Maria tinha conhecimento de tudo que ia acontecer e como aconteceria. 

Ela é uma mulher de fé que caminhava na fé, mesmo sem compreender tudo de maneira absoluta, afinal ela não é deusa. É natural sua preocupação humana, mas isso em nada desabona ou denigre Maria, ao contrário mostra-nos que ela foi uma mulher que amava e desejava o melhor para o seu Filho e ao mesmo tempo, apesar de não entender tudo, permanece, pela fé, fiel aos desígnios de Deus.

Cabe-nos ainda uma atenção aos chamados irmãos de Jesus. 

Na linguagem bíblica, "irmão" é freqüentemente usado em lugar de primo, sobrinho, tio, parente. Por ex. em Gn 13,8 Abraão diz a Ló: "Somos irmãos," enquanto de Gn 11,27-31 consta claramente que Ló era filho de Aran irmão de Abraão, portanto seu sobrinho. Também Labão, em Gn 29,15 fala a Jacó: "Por seres meu irmão, servir-me-ás de graça? Mas em Gn 27,43 e 29,10-11 Labão é declarado irmão de Rebeca, mãe de Jacó, e tio dele.
 
Os evangelistas Mateus e Marcos, (em Mt 13,55 e Mc 6,3) enumeram como "irmãos de Jesus": Tiago, (filho de Alfeu ou o filho de Zebedeu? Independente de qual escolhamos não pode ser filho sanguíneo de Maria uma vez que possuiriam pais diferentes de José)  José, Judas (Tadeu ou iscariotes) e Simão (Filho de João? Mt 16,13-16) : Porém, na cena da crucificação de Jesus, João Evangelista coloca debaixo da cruz: "Sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". Em Mt 27, 55-56, ali se acrescenta, que esta outra Maria (irmã de Jesus) era mãe de Tiago, o Menor, e de José. Estes últimos eram, portanto sobrinhos de Maria mãe de Jesus, e primos de Jesus (Jo 19,25 e Mc 15,40 ). Ora, Judas (Tadeu) Apóstolo, declara-se, no início de sua carta apostólica ( Jd 1,1 ) "Judas", servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago". O mesmo se dá com Simão Apóstolo.

Como fidelíssimo observador da Lei de Moisés, Jesus não podia, na hora de sua morte na cruz, confiar sua Mãe a João Apóstolo (Jo 19,26), mas devia a tê-la confiado ao filho mais idoso dela, se ela de fato os tivesse. Conseqüentemente, os "irmãos” (primos, parentes) de Jesus, tão freqüentemente mencionados nos escritos do Novo testamento, nunca são chamados filhos de Maria, nem filhos de José, confirmando a tradição apostólica.


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