O Evangelho
segundo São Marcos é o mais antigo, foi escrito entre os anos 66 – 73 d.C. A
“mariologia” apresentada nesse Evangelho é ainda minúscula. São Marcos faz apenas
duas referências diretas à pessoa de Maria: Mc 3, 31-35 e Mc 6,1-3. Há pessoas
que tomam esses textos procurando legitimar certa depreciação da Virgem Maria.
No entanto, essa interpretação não se sustenta quando lemos estes textos
conjuntamente: Mc 3, 31-35:
Nisso
chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficaram do lado de fora e mandaram
chamá-lo. Ao seu redor estava sentada muita gente. Disseram-lhe:’Tua mãe e teu
irmãos e irmãs estão lá fora e te procuram’. Ele respondeu: ‘Quem é minha mãe ?
Quem são meus irmãos?’ E passando o olhar sobre os que estavam sentados ao seu
redor, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, esse é
meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Nesta
passagem, o evangelista mostra-nos Jesus afastando-se de sua família de sangue
e dando ênfase a um parentesco espiritual, e indica que esse novo parentesco
fundamenta-se na busca em fazer a vontade do Pai. Esta temática será aplicada a
Maria que primeiro cumpriu vontade de Deus fazendo-se serva do Altíssimo (cf.
Lc 1, 38). De qualquer modo, não há nada na seguinte passagem que indique que
Jesus tenha rechaçado sua mãe como se ela não realizasse a vontade de Deus, o
essencial é a ruptura com a mentalidade de família sustentada por laços de
sangue. Em Mc 3, 20s, vemos que família de Jesus o considera enlouquecido
mediante tudo o que ele vem realizando. Isto justifica o fato da família ir ao
seu encontro, mas não se misturar com a multidão. Duas vezes se diz que a
família estava do lado de fora e uma vez se afirma que a família é quem está
sentado aos pés de Jesus escutando e crendo em sua palavra.
A outra passagem do Evangelho
segundo São Marcos é:
Saindo
dali, Jesus foi para sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No
sábado, ele começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se
admiravam “De onde lhe vem isso?’ diziam. ‘Que sabedoria é esta que lhe foi
dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, filho
de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui
conosco?’ E ele se tornou para eles uma pedra de tropeço (Mc 6, 1-3).
Aqui Jesus é
rejeitado pelos seus, por aqueles que o conheciam provavelmente desde criança,
afinal ele não é ninguém mais do que o
filho de Maria . De acordo com Dom Murilo Krieger o que aconteceu foi
que “o conhecimento de Jesus segundo a carne ofusca o conhecimento segundo o
Espírito”. A Expressão filho de
Maria significaria: “o que tem ele de especial, afinal ele não é um de
nós, uma pessoa qualquer?” São Marcos apresenta-nos Maria, sobretudo como mãe
que se preocupa e teme pelo que possa vir a acontecer com seu filho amado uma
vez que não entende o que ele está a realizar. É um erro supor – como muitos
fazem – que Maria tinha conhecimento de tudo que ia acontecer e como
aconteceria.
Ela é uma mulher de fé que caminhava na fé, mesmo sem compreender
tudo de maneira absoluta, afinal ela não é deusa. É natural sua preocupação
humana, mas isso em nada desabona ou denigre Maria, ao contrário mostra-nos que
ela foi uma mulher que amava e desejava o melhor para o seu Filho e ao mesmo
tempo, apesar de não entender tudo, permanece, pela fé, fiel aos desígnios de
Deus.
Cabe-nos
ainda uma atenção aos chamados irmãos de Jesus.
Na linguagem bíblica, "irmão" é freqüentemente usado em lugar
de primo, sobrinho, tio, parente. Por ex. em Gn 13,8 Abraão diz a Ló: "Somos irmãos," enquanto de Gn 11,27-31 consta claramente que Ló
era filho de Aran irmão de Abraão, portanto
seu sobrinho. Também Labão, em Gn 29,15 fala a Jacó: "Por seres meu irmão, servir-me-ás
de graça? Mas em Gn 27,43 e 29,10-11
Labão é declarado irmão de Rebeca, mãe de Jacó, e tio dele.
Os evangelistas Mateus e Marcos,
(em Mt 13,55 e Mc 6,3) enumeram
como "irmãos de Jesus":
Tiago, (filho de Alfeu ou o filho de Zebedeu? Independente de qual escolhamos
não pode ser filho sanguíneo de Maria uma vez que possuiriam pais diferentes de
José) José, Judas (Tadeu ou iscariotes)
e Simão (Filho de João? Mt 16,13-16) : Porém, na cena da crucificação de
Jesus, João Evangelista coloca debaixo da cruz: "Sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas,
e Maria Madalena". Em Mt 27, 55-56, ali se
acrescenta, que esta outra Maria (irmã de Jesus) era mãe de Tiago, o Menor, e de José.
Estes últimos eram, portanto sobrinhos de Maria mãe de Jesus, e primos de Jesus
(Jo 19,25 e Mc 15,40 ). Ora, Judas (Tadeu) Apóstolo, declara-se, no
início de sua carta apostólica ( Jd 1,1
) "Judas", servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago". O mesmo se dá com Simão Apóstolo.
Como fidelíssimo observador da
Lei de Moisés, Jesus não podia, na hora
de sua morte na cruz, confiar sua Mãe a João Apóstolo (Jo 19,26), mas
devia a tê-la confiado ao filho mais
idoso dela, se ela de fato os tivesse. Conseqüentemente, os "irmãos” (primos, parentes) de Jesus,
tão freqüentemente mencionados
nos escritos do Novo testamento, nunca
são chamados filhos de Maria, nem filhos de José, confirmando a tradição
apostólica.
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