quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Mariologia Parte III



O Antigo Testamento há de ser considerado à luz do Novo Testamento, e vice-versa, pois constituem um só discurso de Deus aos homens. Acrescentamos que a Escritura Sagrada como tal há de ser relida à luz da Palavra Viva que a antecede e a acompanha. Com efeito, a Revelação de Deus aos homens foi feita primeiramente por via oral e só posteriormente foi escrita. Por isto a leitura católica da Bíblia sempre leva em consideração o entendimento que aos antigos intérpretes davam ao texto sagrado.

            Ora o paralelismo entre Eva e Maria ocorre já no século II, sob a pena de S. Justino (+ 165).

            “Entendemos que se fez homem por meio da Virgem, de sorte a extinguir a desobediência, oriunda da Serpente, por ali mesmo onde haveria começado. Eva era Virgem e incorrupta (Eva era virgem ao pecar, porque só depois do pecado teve relações com Adão, conforme Gn 4,1); concebendo a palavra da serpente, gerou a descendência da morte. A Virgem Maria, porém, concebeu na fé e alegria quando o anjo Gabriel lhe anunciou a boa nova de que o Espírito do Senhor viria sobre ela; a Força do Altíssimo a cobriria com sua sombra, de modo que o Santo que dela nasceria, seria o Filho de Deus... Da Virgem nasceu, pois, Jesus, de quem falam tanto as Escrituras... aquele por quem Deus destrói a serpente”.

            Note-se o paralelismo: Eva é portadora da desobediência e da morte; Maria, ao contrário, traz a fé e a alegria. Importante no texto é a observação: Deus quis resolver o impasse oriundo do pecado mediante os elementos mesmos que introduziram o pecado: o anjo (mau) falou à mulher infiel a Deus, o anjo Gabriel falou à mulher fiel a Deus; no primeiro caso, a mulher colabora para a morte; no segundo caso, a mulher (a nova Eva, a verdadeira Mãe da Vida) colabora para a vida.

            S. Irineu (+202) desenvolve o paralelismo: Parte da concepção de que o plano de Salvação não é simplesmente um conserto ou um reparo feito no projeto violado por Adão no paraíso; mas é um recomeçar desde as origens; nesse recomeçar cada qual dos elementos envolvidos na queda é chamado a desenvolver um papel de “recapitulação” para apagar o pecado, Deus quis voltar às origens do pecado e recomeçar a história com elementos correspondentes aos da queda: assim Jesus Cristo é o novo ou segundo Adão (Rm 5,14; 1Cor 15,45-49); a cruz de Cristo é a nova árvore do paraíso, e Maria é a nova Eva. Da mesma forma que Eva se seduziu para desobedecer a Deus, Maria se deixou persuadir a obedecer a Deus para ser ela – a Virgem Maria – a advogada de Eva, de sorte que o gênero humano, submetido à morte por uma Virgem, fosse dela libertado por uma Virgem, tornando-se contrabalançada a desobediência de uma Virgem pela obediência de outra.

            S. Epifânio de Salamina (Chipre), (+403), se faz, de novo, arauto do paralelismo:

            “Eva trouxe ao gênero humano uma causa de morte: por ela a morte entrou no mundo; Maria trouxe uma causa de vida; por ela a vida se estendeu a nós. Foi por isso que o Filho de Deus veio a este mundo: para que, onde abundou o pecado, superabundasse a graça. Onde a morte havia chegado, aí chegou a vida, para tomar seu lugar; e aquele mesmo que nasceu da mulher para ser nova vida, haveria de expulsar a morte, introduzida pela mulher. Quando ainda virgem no paraíso, Eva desagradou a Deus por sua desobediência. Por isto mesmo emanou da Virgem a obediência própria da graça, depois que se anunciou o advento do Verbo revestido de corpo, o advento da eterna Vida do céu”.

Conclusão


O título de Nova Eva é o primeiro título com o qual Maria Santíssima é venerada pela Tradição Cristã. É o título de maternidade – Mãe da Vida – em relação a Jesus, o Messias. Esta prerrogativa foi a primeira a ser definida por um Concílio Geral, ou seja, pelo Concílio de Éfeso em 431: Maria é Theotókhos, Mãe de Deus, na medida em que Deus se quis fazer homem. Deste título decorrem as demais prerrogativas de Maria Santíssima.

Vê-se que a consideração de Maria, desde as suas origens, tem caráter cristológica. Longe de ser independente de Cristo, é suscitada pela definição da identidade de Jesus Cristo. Assim a autêntica piedade Mariana está relacionada com a fé em Jesus Cristo.

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