quinta-feira, 31 de julho de 2014

Motivação para a Semana da Família

A FAMÍLIA nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. 

Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais. 
 
Consciente de que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família.

Dirige-se particularmente aos jovens, que estão para iniciar o seu caminho para o matrimônio e para a família, abrindo-lhes novos horizontes, ajudando-os a descobrir a beleza e a grandeza da vocação ao amor e ao serviço da vida.

A família cristã, de fato, é a primeira comunidade chamada a anunciar o Evangelho à pessoa humana em crescimento e a levá-la, através de uma catequese e educação progressiva, à plenitude da maturidade humana e cristã. Mas não só. Enquanto comunidade educativa, a família deve ajudar o homem a discernir a própria vocação e a assumir o empenho necessário para uma maior justiça, formando-o desde o início, para relações interpessoais, ricas de justiça e de amor. 
 

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DA FAMÍLIA 2014




A Paróquia São Pedro e São Paulo convida todas as famílias para a vivência da Semana da Família. Segue a Programação:

DIA 10 DE AGOSTO - DOMINGO

Os horários de Missa seguem de acordo com a Programação já existente na Paróquia
Após a Missa das 8h na Matriz, o ECC oferecerá um café da manhã para os pais
19h – Missa de Abertura da Semana da Família na Matriz São Pedro e São Paulo.
Tema: “Que o homem carregue nos ombros a graça de um pai.”

DIA 11 DE AGOSTO – SEGUNDA

19:30h – Matriz São Pedro e São Paulo - Ofício Divino das Comunidades – Comum de Nossa Senhora. Esta noite dedicadas às mulheres
Tema: “Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor!”

DIA 12 DE AGOSTO - TERÇA

19:30h – Matriz São Pedro e São Paulo – Grupo de Oração Amor Fraterno – Momento dedicado à oração pelos filhos
Tema: “Que os filhos conheçam a força que brota do amor!”
19:30h – Missa na Igreja de Santa Ana

DIA 13 DE AGOSTO – QUARTA

19:30h – Matriz São Pedro e São Paulo – noite dedicada à recitação do terço
Tema: “Que nenhuma família termine por falta de amor
19:30h – Missa na Igreja do Menino Jesus

DIA 14 DE AGOSTO - QUINTA

19:30h – Missa na Matriz e em Nossa Senhora de Nazaré: Benção das alianças e renovação das promessas do casamento

DIA 15 DE AGOSTO - SEXTA

19:30h – Missa na Igreja do Sagrado Coração
Tema: “Que nada no mundo separe um casal sonhador.”

DIA 16 DE AGOSTO - SÁBADO

19:30h – Missa na Comunidade São Daniel
Tema: “Que a família celebre a partilha do abraço e do pão!”

DIA 17 DE AGOSTO – DOMINGO

Os horários de Missa seguem de acordo com a Programação já existente na Paróquia
Após a Missa da 8h na Matriz, a RCC promove o retiro de casais que será encerrado às 17h
19h – Missa de Encerramento da Semana da Família
Tema: "Que no seu firmamento a estrela que tem maior brilho
Seja a firme esperança de um céu aqui mesmo e depois"

Religião e Política: "Em quem o Cristão vota?"



Graça e Paz!


Irmãos e irmãs, estamos nos aproximando de um novo período eleitoral e por isto cabe a nós alguns esclarecimentos em vista de uma participação mais profunda na vida política de nosso país. É preciso começar com uma afirmação muito direta: a política é uma questão religiosa sim!

 Para alguns, a política e a religião são coisas que não devem se tocar. Isto é mentira! Afinal de contas as dimensões da vida não podem ser separadas como em uma gaveta! Neste sentido, é totalmente ideológica a posição de quem deseja separar religião de política. Nada mais politiqueiro do que promover esta separação. Ela em si mesma já denota uma posição política muito bem definida: quando alguém luta para separar realidades tão próximas se posiciona ao lado do status quo. Retomo as palavras do Papa Francisco:


Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos… Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183).


O Papa Francisco lembra a importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: “devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum” (Respostas do Papa Francisco às perguntas dos representantes das escolas dos jesuítas da Itália e na Albânia, junho de 2013). Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa “suja” isso se deve ao fato de que “os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico”. É preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela atual situação da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.


Os períodos eleitorais constituem-se em momento propício à participação dos cristãos, de quem se espera conscienciosa atuação no processo decisório sobre aqueles que conduzirão a coisa pública. Mas, não basta o voto. Antes e depois das urnas, deve-se proceder um rigoroso acompanhamento dos candidatos Todos os cristãos são convocados pelo próprio Senhor a se dedicarem a esta iniciativa. Antes de decidir em quem votar, o eleitor consciente deve conhecer o passado de seu candidato e averiguar se o discurso e a prática por ele apresentados se conformam aos valores da ética e do bem comum. 


É preciso também exercer a missão profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância. Não é cristã a atitude de quem negocia seu voto, pelo contrário, age como o Judas Iscariotes pois, uma vez que do voto vendido as consequências recaem primeiramente sobre os pobres, ao vender o voto se trai os pobres e traindo os pobres se trai o próprio Senhor. (Mt 25,31-46). 


A cada discussão, a cada reunião, a cada momento com o seu candidato portanto,  o cidadão deve se decidir a favor da honestidade, do bem comum e contra a corrupção. Assim se aprimora, em mútua cooperação, a democracia. Isso só saberá fazer quem conhece a história de seu candidato. É importante que não nos deixemos enganar por promessas e rejeitar aqueles que fizeram da política profissão e sustentados por plataformas eleitorais sempre reaparecem nestes períodos movidos de um falso patriotismo e interesseira preocupação com a situação do povo. 


Ao nos aproximarmos das urnas, devemos ter consciência de que  embora o voto constitua um momento privilegiado de participação cidadã numa democracia representativa está longe de encerrar-se a responsabilidade cristã. A decisão consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um passo importante, mas não é o único. É preciso que, como cristãos, continuemos a contribuir para que haja um diálogo que aponte às mudanças necessárias na consolidação de uma cidadania inclusiva, de modo a garantir que a sociedade possa participar e exercer democraticamente o poder político e isto se efetiva mediante a fiscalização e acompanhamento das ações pós eleições!


Qualquer pessoa pode se dispor a ajudar determinados candidatos agindo de acordo com sua reta consciência e a este serviço pode se dedicar, no entanto, em nenhuma das reuniões de nossos grupos ou comunidades se poderá fazer campanha eleitoral e muito menos se associar favores de candidatos a grupos como muitos ainda insistem devido à obscuridade de sua própria consciência ou devido a uma mentalidade que coloca o candidato como um ser superior. 


Por fim, a Fé não pode ser vivida isoladamente, mas em comunidade e no exercício da caridade. Neste sentido, em quem um cristão vota? A resposta é esta: em quem historicamente e não de ontem para hoje tem se comprometido no zelo pelo próximo, em quem não se conforma com o fato de estar sobrando na mesa de poucos, aquilo que falta na mesa de muitos, em quem vê a necessidade de que todos se empenhem para que efetivem no País os valores da igualdade, da dignidade humana e da justiça social.

CRISTOLOGIA - PRIMEIRO CONTATO



MANEIRAS DE PENSAR E FALAR SOBRE JESUS

Há três maneiras de pensar e de falar sobre Jesus Cristo. Duas delas não se coadunam com a fé cristã: Jesus visto como um ser humano qualquer, destituindo- o de sua divindade, e Jesus concebido apenas como Deus, esquecendo-se de sua  humanidade. A fé cristã afirma ao mesmo tempo a divindade e a humanidade de Jesus, vendo-o como Deus que se fez homem, como homem que é Deus, como o crucificado que é ressuscitado.
 Vejamos as características de cada uma destas três visões. O objetivo é ajudar o aluno a chegar à compreensão do centro da discussão cristológica, passando pela observação das atitudes e comportamentos mais diversos que o mundo de hoje tem diante de Jesus de Nazaré.

1.1. JESUS DE NAZARÉ: UM SER HUMANO QUALQUER

Um ser humano qualquer. Este é o modo de tratar Jesus próprio da maioria dos historiadores, jornalistas, repórteres, estudiosos da religião, romancistas, religiosos gnósticos. Veem Jesus como o fundador de uma nova religião, o reformador da religião judaica, um profeta de Israel, um místico, um conhecedor dos mistérios religiosos, um contestador social, um líder político, um homem bom e simples, um amigo do povo, um homem santo, um homem possuído por Deus.  
                                                             
Não falam, nem escrevem como cristãos, como pessoas de fé. Por isso, não pressupõem a divindade de Jesus de Nazaré. Às vezes, até a negam. Por negarem ou menosprezarem a divindade de Jesus, descartam as verdades da fé cristã. Todas elas se relacionam com a pessoa divina de Jesus Cristo: a pré-existência de Jesus na eternidade, a existência de um Só Deus em três pessoas, a concepção virginal de Maria, a virgindade, a consciência divina e messiânica de Jesus, a ressurreição, a oferta divina da salvação e a centralidade e unicidade de Jesus Cristo para a salvação de toda a humanidade, a origem divina e a santidade da Igreja, os meios de salvação, da Palavra e dos sacramentos, a santidade dos mandamentos e da moral cristã, a predestinação de todos à comunhão com Deus etc. Como se percebe, a rejeição da divindade de Jesus leva ao desmoronamento de todo o arcabouço do credo cristão. 

            Essa maneira de pensar e de falar sobre Jesus está muito presente nas produções da mídia, da religião, da política e da ciência de hoje. Reportagens em revistas e na televisão, filmes, romances, histórias de Jesus, entre outras produções culturais, pretendem ocupar espaço no mercado, satisfazer curiosidades e futilidades descomprometidas com engajamento religioso e com a dimensão social da prática religiosa. Não estão interessadas na dimensão divina de Jesus, nem na confissão da fé cristã. Muitas expressões religiosas atuais, como o espiritismo, a maçonaria, os movimentos gnósticos e esotéricos, a Nova Era, entre outros, embora apreciem os ensinamentos de Jesus de Nazaré como mestre espiritual, não reconhecem sua divindade. Alguns movimentos sociais e políticos, com fortes motivações para a transformação da realidade, recorrem à crítica profética de Jesus à sociedade, vendo-o apenas como um mestre na contestação política e na instauração de uma nova ordem social, e não como o único divino salvador.  

            Do mesmo modo, muitos escritos científicos, nas áreas da história, da psicologia, da sociologia, das ciências da religião, entre outras, por causa dos pressupostos do método científico, não se interessam pela divindade de Jesus. Essas produções literárias, científicas, políticas, religiosas, artísticas ou jornalísticas, despojam a pessoa de Jesus de toda a interpretação que sobre ele foi dada pela Igreja no decorrer dos dois milênios do cristianismo. Segundo os autores dessa tendência, a interpretação da Igreja está marcada por muita mitologia, jogos simbólicos, fantasias, crendices, lendas. Despojando Jesus de todo esse arcabouço interpretativo, chegaríamos ao Jesus de Nazaré tal e qual, pura e simplesmente homem. Ainda que dotado de qualidades espirituais peculiares.

O que temos a dizer sobre essa tendência?

É preciso reconhecer que há valores nesse modo de pensar e de falar sobre Jesus.  Há, aí, uma preocupação em resgatar a realidade concreta, histórica, social, política, em uma palavra, humana, da pessoa de Jesus Cristo. Como veremos adiante, a fé cristã também afirma a humanidade de Jesus. O credo cristão tem como base à existência histórica do homem de Nazaré, com suas opções e causas, seus conflitos e posicionamentos, com sua vida e morte. Mas, a negação da divindade de Jesus Cristo, como foi dito acima, põe abaixo todo o conteúdo e o sentido da fé cristã. 

         Se Jesus não é Deus, ele não pode ser o nosso salvador. Se Jesus não é Deus, a Igreja por ele fundada é apenas uma instituição humana, uma entidade filantrópica, uma agência de serviços religiosos. Se Jesus não é Deus, todas as mediações religiosas do cristianismo (sacramentos, ritos, celebrações, orações, mandamentos, virtudes etc.) são apenas invenções humanas. Se Jesus não é Deus, então, não vale a pena segui-lo, dar a vida por ele, acreditar na sua Palavra, orar a ele, dedicar-se ao anúncio e à prática de seu Evangelho.

1.2. JESUS CRISTO UM DEUS DAS ALTURAS

Embora seja mais difícil de conceber Jesus de Nazaré apenas como Deus, por causa da evidência de sua humanidade (seu corpo, sua inserção na geografia e na história humanas, e, mais concretamente, seus sofrimentos e sua morte), há pessoas e grupos, no interior do cristianismo, que insistem demasiadamente na divindade de Jesus, a ponto de esquecerem sua humanidade. 

        Este é o modo de tratar Jesus próprio de um grande número de movimentos e igrejas cristãs, notadamente as de caráter fundamentalista, que teimam em realçar as palavras e os fatos extra-ordinários de Jesus. Insistem no miraculoso e, às vezes, no fantástico. Não se dão conta de que, agindo assim, tratam da história de Jesus de Nazaré como se fosse uma peça de teatro, escrita desde toda a eternidade por Deus, dirigida pelo Pai, protagonizada por um homem, que faz o papel de Deus na história humana. 
 
Jesus seria visto como o ator de uma tragédia, uma encenação terrena que reflete a luta sobrenatural entre Deus e o diabo.  Jesus seria uma espécie de marionete, um fantoche, um robô. Desarticulado e desconectado de inserções históricas e sociais, Jesus é tratado como uma idéia, um ideal, um mito, uma representação, um simples conceito abstrato. Embora não neguem teoricamente a humanidade de Jesus, acabam por negá-la na prática. Por menosprezarem as conseqüências práticas da humanidade de Jesus, não sabem articular importantes temas da cristologia e da vida cristã. Têm dificuldades para entender e trabalhar realidades concretas da vida de Jesus: as tentações, as crises, as angústias e aflições, o desenvolvimento de Sua consciência humana, as mudanças de percurso, o crescimento na fé, o despertar para sua consciência divina e para sua missão messiânica, os condicionamentos históricos e culturais de sua mensagem e de sua prática, os conflitos com os donos da política e da religião da época, a tomada de posição ao lado dos pequenos e pobres, as mediações concretas de sua obra evangelizadora, a ignorância sobre a vinda definitiva do Reino, as dores e, o sofrimento, o grito de abandono e a morte de cruz.
Essas realidades tão humanas da vida de Jesus são vistas apenas como práticas Pedagógicas: “Jesus fez de conta que..., para nos ensinar como...”. A humanidade de Jesus seria uma peça teatral, uma paródia, uma farsa. Como se pode constatar, a rejeição prática da humanidade de Jesus, além de contradizer dados concretos e  evidentes dos evangelhos, torna sua pessoa distante e desligada da realidade  humana cotidiana e, portanto, leva ao desmoronamento de todo o arcabouço da  moral e da espiritualidade cristãs.
Essa maneira de pensar e de falar sobre Jesus está muito presente em determinados  movimentos e comunidades cristãs da  atualidade que insistem no elemento  miraculoso da salvação oferecida por Jesus Cristo. Apresentam a religião cristã como caminho de solução para todos os problemas: doenças, desemprego, crises conjugais, problemas afetivos, desordens morais, vícios etc. 
            Na linha da magia, Jesus é salvador na medida em que expulsa os demônios que
estariam impedindo a felicidade dos fiéis. A teologia da prosperidade vê Jesus como salvador na medida em que recompensa, com bênçãos e soluções de problemas, às pessoas que, abnegadamente, fazem doações à sua igreja-empresa. 
            Segundo uma recorrente escatologia da retribuição, Jesus está para voltar, em sua segunda vinda, de modo apoteótico e triunfante, para intervir na realidade e  arrebatar aos céus os seus eleitos, condenando os perversos ao fogo dos infernos.  Para uma veemente teologia do sacrifício, Jesus salva os que renunciam aos prazeres do mundo, com jejuns e penitências merecedores das boas graças do céu. 
 Para os que propõem a fuga do mundo, Jesus salva os que se refugiam nas  sacristias, em uma espiritualidade  intimista e interiorista. Segundo o  fundamentalismo religioso cristão ou um perigoso integrismo católico, Jesus salva  somente os que se inscrevem na única igreja verdadeira.
            Essas expressões cristãs despojam a pessoa de Jesus de toda a inserção na história, de todo engajamento no mundo. Desencarnam Jesus. Desligam Deus das realidades mundanas. Despojando Jesus de sua encarnação histórica e social, pretendem chegar ao Deus único, espírito perfeitíssimo, senhor absoluto, ser  supremo. Ainda que estranha e paradoxalmente marcado por vicissitudes  humanas e históricas.

O que temos a dizer sobre essa tendência?

Há valores nesse modo de pensar e de falar sobre Jesus. Há, aí, uma preocupação
em retomar e relançar o fato inédito e inaudito da presença e da ação de Deus na  história humana. Como veremos adiante, a fé cristã também afirma a divindade de  Jesus. Mas, a negação da humanidade de Jesus Cristo põe abaixo o conteúdo e o  sentido da fé cristã, naquilo que implica a prática de uma moral e de uma  espiritualidade específicas, ou seja, de um modo novo e diferente de ser humano.
Se Jesus não é verdadeiramente humano em tudo, nas tentações e fraquezas, nos
limites e condicionamentos, nos sofrimentos, crises e cruzes, próprios do ser humano, ele não pode ser o nosso salvador. 
            Se Jesus não assume nossa real e concreta humanidade, então não somos real e totalmente redimidos. Se Jesus não assume a história humana, com seus conflitos, suas exigências de posicionamentos e opções, suas mediações culturais e sociais, seus processos de desenvolvimento e de amadurecimento, então, nossa humanidade não é verdadeiramente transformada e libertada daquilo que ela tem de pecaminoso. Se Jesus não é um ser humano, então, não é possível imitá-lo e segui-lo, dar a vida como ele, praticar  a sua Palavra, dedicar-se à transformação das estruturas e à conversão das pessoas na linha de seu Evangelho.

1.3 JESUS DE NAZARÉ: O CRISTO DE NOSSA FÉ

Jesus de Nazaré é a presença e a ação de Deus em nossa história. E desse modo que os cristãos concebem e anunciam Jesus Cristo. Trata-se de um paradoxo uma aparente contradição. Ou, como disse São Paulo, um escândalo para os pagãos,  uma loucura para os judeus. Afirmar que Jesus de Nazaré, o crucificado, é o Senhor ressuscitado, o Cristo de nossa fé, é, para nós, cristãos, a sabedoria de Deus  (1 Cor 1,20-25).
            Este é o núcleo central e específico da fé cristã. É nisso que os cristãos se diferenciam de todas as outras religiões. E nisso que se unem todos os cristãos, de qualquer igreja ou denominação — católicos, ortodoxos, evangélicos, pentecostais. Nós, cristãos, cremos num homem que é Deus, num crucificado que ressuscitou.  Está claro que se ele é Deus, é porque ele já era Deus, desde sempre, desde toda a eternidade. Cremos, portanto, num Deus que se fez homem. 

            Nós, cristãos, cremos num homem que amou até o fim (Jo 13,1), que pagou com a morte a promoção e a defesa da vida dos marginalizados, que morreu por amor de seus irmãos, que foi vítima inocente na mão de gente ímpia (At 2,23). Esta nossa fé é confirmada pela ressurreição. Aquele que tinha tanto amor para dar (Jo 15,13), que era o senhor da vida (Jo 10,18; 14,6), que veio trazer vida em abundância (Jo 10,10), não podia permanecer na morte. Tão humano assim, só pode ser Deus. A morte não tinha poder sobre ele (Rm 6,9). Ao assumir a morte, ele a derrotou. O crucificado ressuscitou. Ao assumir os pecados de seus assassinos e de todos os seres humanos, ele os perdoou e os queimou no fogo de sua misericórdia. Tão humano assim, só Deus pode ser.  

            Quem ressuscitou foi aquele que se predispôs à morte. O ressuscitado não caiu do céu, não é um mito, um ator de uma peça de teatro, mas é alguém que morreu por uma causa, na fidelidade a um projeto, por causa do Reino que anunciou e iniciou.  A fé cristã se baseia neste escândalo: o crucificado é o ressuscitado, o ressuscitado é o crucificado.

              Nossa fé em um crucificado-ressuscitado (1 Cor 2,2; 2 Cor 13,4), que assumiu e
venceu a morte, e, nela, todas as maldades dos pecadores e todos os limites da humanidade, é confirmada pela exaltação e glorificação desse homem como Deus. Mas, aquele que foi exaltado é aquele que havia descido (Fl 2,6-11), que viera a nós, que havia se encarnado em nosso meio (Jo 1,14), que quisera ser Deus - conosco (Mt 1,22-23). A fé cristã se baseia neste escândalo: este homem é Deus, este Deus fez-se homem.
            Crucificado-ressuscitado, homem-Deus. Trata-se de uma identidade na contradição. Jesus de Nazaré é o Cristo da nossa fé. O Senhor da história, o Cristo de nossa fé, nosso único Salvador, o Deus de nossas vidas, é Jesus de Nazaré. Trata-se de uma identidade: o morto está vivo, o crucificado é o ressuscitado, este homem é verdadeiramente Deus. Mas, na contradição: Como pode um homem ser Deus? Como pode um morto ressuscitar?  E precisamente este escândalo, este paradoxo, esta tensão, o centro de nossa fé. E o que desenvolveremos a seguir.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

PARÓQUIA DISPONIBILIZARÁ MATERIAL FORMATIVO

CONVITE A TODOS OS NOSSOS PAROQUIANOS E A TODOS OS INTERESSADOS.

PEÇO QUE LEIAM COM ATENÇÃO

NOSSO BLOG PAROQUIAL ESTÁ REABILITADO E ALÉM DE TUDO QUE LHE É NORMAL ESTAREMOS DISPONIBILIZANDO MATERIAIS FORMATIVOS DA ESCOLA DA FÉ.

VALE RESSALTAR QUE NOSSA ESCOLA DA FÉ JÁ ESTÁ NO MÓDULO IX. MAS SE VOCÊ PERDEU, ESTAREMOS AGORA LHE OFERECENDO UMA OPORTUNIDADE VIA NET. A PROGRAMAÇÃO É A SEGUINTE:

SEGUNDA FEIRA --- INTRODUÇÃO ÀS SAGRADAS ESCRITURAS

TERÇA FEIRA --- INTRODUÇÃO AOS SACRAMENTOS

QUARTA ---------- MARIOLOGIA

QUINTA ------ CRISTOLOGIA

SEXTA ---------- CARTAS PAULINAS

SÁBADO ------- ECLESIOLOGIA

DOMINGOS --- O EVANGELHO SOCIAL DE JESUS DE NAZARÉ

VOCÊ AGORA PODE TER ACESSO A ESTE MATERIAL PELO ACESSO AO BLOG

Mariologia - Primeiras palavras



Ao ouvirmos ou pronunciarmos o nome de Maria nossa mente e nosso coração se enchem de sentimentos e de reflexões. Todo um imaginário de devoção e de fé povoa nosso ser. Ao longo da história encontramos muitas pessoas que se interessaram em buscar compreender a pessoa e a função de Maria no plano de Salvação. Encontramos milhares de pessoas que se relacionam com a Mãe de Deus pela devoção pessoal e comunitária, nem sempre aprofundando ou interessando-se em aprofundar a compreensão do papel mariano no conjunto do projeto divino. Encontramos também pessoas que não criaram vínculos com Nossa Senhora e não sentem essa necessidade. Encontramos também quem pergunte o porquê de tanto interesse.

1.1  Por que conhecer Maria?

“Maria está no coração da história da salvação” (LG 65). Ela é a mulher que nos ajuda a contemplar o mistério do ser humano e da Igreja por dentro, a partir da encarnação.

Com o seu sim, ela se associa intimamente a Deus Trindade, colaborando plenamente para a realização do projeto salvífico. Essa união íntima a coloca em um lugar singular, o coração da história. Esse coração é o próprio Jesus Cristo. Nele o ser humano encontra a sua própria identidade (GS 22). Conhecer Maria é entrar no coração. Olhar para ela é olhar para o Verbo Encarnado, é contemplar o mistério do Deus que se faz pequeno e humano, frágil e despojado, cheio de amor pela criação.

Conhecer Maria é percorrer o caminho da identidade do ser humano, pois nela os fios da teia do mistério da vida se entrecruzam e se ligam com o divino. Ela é a criatura humana em comunhão com o Criador. Comunhão harmoniosa que refaz a origem (Gn 1-2) e não quebra nem diminui a liberdade da criatura, mas a enriquece e a plenifica. Olhar para Nossa Senhora é olhar para a mulher que aponta para a possibilidade da liberdade humana colocada em sintonia com Deus. Ela é a mulher que acredita no Deus libertador. Ela acredita em Javé (Ex 3,7-10).

Em Maria se reflete o amor de Deus pela criação, passando pela criatura humana. Assim, ela não é uma figura a parte na fé, mas alguém que esclarece, auxilia, sinaliza. O teólogo Clodovis Boff, em seu livro "Introdução à Mariologia", nos coloca ainda outros objetivos para o conhecimento de Maria:

a. Existe um porquê espiritual: crescimento no amor e na devoção. Conhecer Maria nos faz crescer na nossa devoção em relação à Mãe de Deus, também em relação ao próprio Deus. A devoção mariana não para na pessoa de Maria, é sempre voltada à Trindade, diz o Papa João Paulo II. Crescer na devoção e no amor por Maria é crescer no amor e na devoção pela humanidade e pela criação, amadas por Deus. Daqui poderemos tirar compromissos comunitários, solidários, ecológicos.

b. Existe um porquê moral: conhecer Maria para imitá-la. Este motivo talvez seja o mais belo e também o mais difícil, pois é o mais conflitivo. Normalmente, conhecemos pouco de Maria e até nos espantamos quando nos aprofundamos em sua vida. Maria é a mulher que teve o coração traspassado pela dor (Lc 2,35), teve a vida "virada e revirada" tantas vezes por Deus (seu Filho) e seus seguidores, sempre aprendendo, sempre dando passos, se mantendo fiel no caminho.

c. Há um motivo cultual: celebrar de modo adequado liturgicamente e devocionalmente Nossa Senhora. Mais uma vez São João Paulo II nos lembra que a verdadeira celebração leva a Deus Trindade, mesmo quando celebra Maria. Muitas celebrações litúrgicas e devocionais, ao longo do ano, lembram aos cristãos a presença, a fé, a força, o exemplo, as graças, a intercessão da Virgem santa. Nessas celebrações, à medida que aprofundamos o conhecimento da vida da Mãe do Senhor, vamo-nos dando conta de que ela nos estende a mão por estar do nosso lado, voltada para Deus como nós e conosco.

d. Há um porquê pastoral: ter a capacidade de evangelizar, de comunicar o sentido de Maria ao Povo de Deus e à sociedade. O conhecimento sobre Maria não pode ficar preso no coração de cada um. Quem aprofunda sua fé, seu conhecimento, sua celebração, sua espiritualidade em torno da pessoa de Maria torna-se, pouco a pouco, testemunha do Evangelho do Senhor Jesus. Entra em diálogo com o Povo de Deus, a partir de sua comunidade, e com a sociedade. Conhecer Maria é abrir-se ao diálogo evangelizador. Isso significa: estar pronto para dar razões da própria fé (1Pr 3,15), sem desvalorizar a fé dos outros; acolher as diferenças, buscando enriquecer a vida. Nesse diálogo evangelizador o Concílio Vaticano II convida a olhar para Maria como a intercessora pela unidade entre todos os cristãos (LG 69).

Aqui inicia o compromisso ecumênico. Maria nos leva a pensar seriamente no ecumenismo e no diálogo inter-religioso, mesmo que "os outros" não gostem de, não rezem a, não cultuem Maria.

1.2  Como conhecer Maria?

Maria se encontra no coração da história da salvação, no coração do mistério. Mistério não é algo desconhecido, mas é algo que se revela, que quer ser conhecido. Mistério não é algo que nos causa medo, é algo que nos causa admiração. Diante do mistério é inevitável a atitude do silêncio, do silêncio contemplativo. Esse silêncio, porém, não é estático, pois gera uma força interior que transforma a vida, modifica, pouco a pouco, o pensamento e o coração. O mistério merece respeito e reverência. Maria faz parte do mistério. Conhecer Maria exige respeito e reverência. Isso não significa que não se pode tocar no mistério, que não se pode tocar em Maria. Congelar o mistério, não tocá-lo, colocá-lo numa redoma de vidro, isso sim seria falta de respeito e de reverência. Assim também com Maria.

Maria é uma mulher profundamente inserida na história da salvação, por isso, profundamente inserida na história de seu povo, tirá-la do seu tempo e de seu contexto é desrespeitá-la. Somente compreendendo-a no seu tempo e no seu contexto é que poderemos entender o seu significado para todos os tempos e para todos os contextos. Nesse caminho existem algumas fontes que nos ajudam:

a. A Bíblia: fonte principal de toda a teologia. A Palavra de Deus, lida ao longo dos séculos, é critério fundamental para o conhecimento de Maria. Sempre lida dentro da Tradição eclesial, não esquecendo a diversidade de enfoques, que enriquece e ilumina o conhecimento e a espiritualidade.

b. O “sensus fidelium”, ou seja, aquela sensibilidade nascida da fé mais profunda e genuína consensual dos fiéis. Essa sensibilidade ao longo dos tempos contribuiu para compreender a revelação divina continuada na vida concreta das comunidades, também na pessoa de Maria.

c. A Tradição: primeiros teólogos, chamados de Padres da Igreja ou Santos Padres. Duas fontes que se unem numa vertente de vida de fé: teologia original e liturgia. A Igreja celebra o que crê e crê o que celebra.

d. O Magistério pastoral: Concílios, Santa Sé, ensinamento e pregação dos pastores reunidos ou individualmente. Os que foram constituídos pastores da Igreja exercem uma função de ensino e, por isso, ajudam a compreender a revelação divina.

e. A Teologia: estudo e reflexão sistemática e crítica da doutrina e da fé da Igreja. A teologia e a “ferramenta” usada para aprofundar de modo crítico o conhecimento e a fé em Deus.

Essas fontes sozinhas não têm força. Elas precisam ser trabalhadas com métodos. Um primeiro método quem nos sugere é o Concílio Vaticano II, quando, ao falar do método teológico no documento Optatam Totius, ao número 16, cita São Boaventura: “(Ninguém) pense que basta a leitura, sem unção, a especulação, sem devoção, a pesquisa, sem admiração, a observação, sem a exaltação, a arte, sem a piedade, a ciência, sem a caridade, a inteligência, sem a humildade, o estudo, sem a graça divina, a contemplação, sem a sabedoria divinamente inspirada”. Aqui se lembra a necessidade de unir fé e razão, colocando o acento na devoção. O estudo sobre Maria somente será frutuoso se for feito com devoção. Quando puramente racional, o conhecimento sobre Nossa Senhora se torna seco, árido e leva à profunda crise de fé e de relacionamento com Deus.

Outro método nos é dado pela Igreja Latino-americana e, de modo especial, vem sendo usado pela CNBB em seus documentos pastorais. É o método que parte da vida, constatando as realidades sensíveis, as fragilidades, as necessidades, as alegrias, as forças, passando para a iluminação da palavra de Deus e da fé, identificando o que Deus tem a dizer sobre o constatado na vida. Por último, olhando para a vida e para Deus, se busca a resposta sobre o que é possível fazer. Esse método ficou conhecido como: ver, julgar e agir. Hoje acrescentamos a esse método avaliar e celebrar, pois nosso conhecimento deve ser aprofundamento da fé (conhecimento da vida e iluminação de Deus), evangelização (transformação da vida), re-proposta de ação (avaliação para continuar aprofundando e transformando a vida) e celebração (comunhão cada vez mais plena com Deus e com os irmãos e as irmãs na fé).

Podemos tentar resumir: o conhecimento de Maria será tanto mais legítimo, quanto mais aprofundado nas fontes a partir da vida com devoção.

1.3 O que atrapalha?

É importante ter consciência que algumas coisas atrapalham o conhecimento de Maria.

a. Uma atitude espiritualizante. Pensar que tudo deve ser visto somente do ponto de vista espiritual é um erro muito comum no estudo sobre Maria. Ela é pessoa completa. Deus não tirou a sua vida na história, na sociedade de Israel, no seu tempo.

b. Uma atitude maximalista. Colocar Nossa Senhora como o “máximo”. Ao longo da história ocorreram exageros. Ela é importante. Ela ocupa um lugar singular. Porém, se deve tomar cuidado para não colocá-la no lugar de Deus. Sua função, como a de qualquer criatura, é subordinada a Cristo. Ela mesma diz “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

c. Uma atitude minimalista. Já que não é o máximo então é o mínimo. Também ocorreu na história e também não é correta. Ela está no coração da história.

d. Uma atitude puramente devocional. Por causa da devoção não se pode dizer nada que pareça ferir a honra de Maria ou que vá contra aquilo que se crê. É importante lembrar que nem sempre nossa devoção está construída corretamente e, por isso, muitas coisas irão nos questionar, mas não irão machucar Maria, pelo contrário irão honrá-la ainda mais, pois a farão verdadeiramente serva do Senhor, como ela mesma se chamou (Lc 1,38).

e. Uma atitude puramente racional. Com facilidade alguns jogam fora dados de fé que não entendem, simplesmente porque a razão não explica, esquecendo de “imitar”, Maria que guardava e meditava todas as coisas em seu coração (Lc 2,19.51).

1.4 Uma observação

As lições que seguem não têm a pretensão de trazerem uma reflexão acabada e completa sobre Maria. Também não têm a vontade de ser uma simples repetição do que já está dito em outros escritos, lançando o convite/desafio a buscar este conhecimento, partilhado por tantos autores e autoras, teólogos e teólogas devotados à Mãe de Deus.

Existe muito material escrito em bibliotecas e livrarias, por autoridades eclesiásticas, por estudiosos e por pessoas simples, que contêm uma profundidade maravilhosa sobre a vida e o significado de Nossa Senhora na história e no plano de Deus. É verdade que também há muita coisa que deve ser vista com olhos atentos, pois carregam ressentimentos e enganos.


As reflexões propostas nos dez próximos encontros querem trazer propostas e questões que ajudem a ampliar horizontes, atendendo o convite, ainda ressoante, do ano jubilar de 2000: “Avança para águas mais profundas” (Lc 5,4). Distancia-te para águas mais abrangentes! Aprofunda a tua fé.