segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nota sobre o Acidente com ônibus de Santa Rita






Graça e Paz!

Na manhã de sábado fomos todos surpreendidos pela triste notícia do acidente envolvendo um dos ônibus que faz a linha Santa Rita a João Pessoa. Nós, da Paróquia São Pedro e São Paulo nos fazemos solidários com as famílias que estão passando por este momento de tristeza e dor. É necessário que todos nos amparemos e nos fortaleçamos pela oração e pela presença amigável.
A Fé que nos une é alimentada pela certeza da Ressurreição do Senhor. Jesus ressuscitado dos mortos é a certeza de que Deus sempre estará com suas mãos voltadas sobre seus filhos, guiando, cuidando e ao fim de nossa jornada nesta terra, acolhendo a todos! Nossa Paróquia se encontra à disposição das famílias pela força da Oração.
Um outro ponto que não podemos deixar de mencionar é que durante muitos anos o povo de Santa Rita clama por melhores condições de transporte. Não é novidade para ninguém a situação do transporte público, basta um pequeno passeio pelas redes sociais, sempre foi clara para todos as péssimas condições dos ônibus. Basta perguntar a quem os utiliza. No último dia 3 de setembro o JPB primeira edição apresentou uma reportagem falando sobre o dia a dia de quem necessita se locomover de ônibus para o trabalho e os estudos. É necessário que todos, em um livre exercício de nossa consciência, questionemos o monopólio do transporte público na cidade de Santa Rita. É vergonhoso que a terceira maior cidade do nosso estado viva sob tais condições que constituem um total descaso e descompromisso. É necessária uma nova concessão de transporte público que garanta o respeito à dignidade de nosso povo. Esta é uma necessidade há muito em pauta nos clamores de nosso povo e qualquer um que deseje o bem do povo não pode fechar os olhos para esta situação!
Agora, pedimos de modo especial aos nossos paroquianos que em nossas redes sociais não divulguemos fotos nas quais estejam expostas as vítimas deste acidente. É necessário um profundo respeito também com a imagem de quem deixou esta vida. Não divulgar imagens chocantes é um jeito de demonstrar nossa solidariedade com as famílias e respeito com os falecidos. Em lugar da divulgação deste tipo de imagem, mantenhamos no coração a lembrança feliz de quem partiu desta vida ao mesmo tempo em que ergamos uma oração invocando a profunda misericórdia de nosso Deus que nos ama e nos quer em comunhão com Ele mesmo e com toda a criação.
 
Que por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, recebamos das mãos do Pai das misericórdias todos os dons do Espírito Santo!

sábado, 14 de setembro de 2013

Meditações sobre a Cruz do Senhor - A cruz como julgamento

A cruz é a execução do juízo de Deus com relação ao pecado que se concentrou e se tornou visível no Filho (2 Cor 5,21). Relacionada a este juízo de Deus há uma linha que se inicia na Antiga Aliança, estende-se até Paulo e depois João. No Antigo Testamento Deus mesmo é o juiz como Aquele que guarda seus direitos estabelecidos na Aliança, portanto é nesta fidelidade que Ele expressa quem É.Na Antiga Aliança, o direito estabelecido por Deus é o fundamento de toda a confiança, do qual sua justiça não é senão um aspecto, como também são a sua fidelidade, paciência, condescendência. Deus como justo que é, e por isso juiz do cumprimento da Aliança (Sl 50,6), sempre desce e intervém de forma que o errado se corrija, expressando envolvimento com o futuro de sua obra criada.                                                      
Por levar a sério o seu parceiro de Aliança é que Deus o busca, reconduz, pelo julgamento que corrige pedagogicamente. Desta maneira, não há nenhuma aceitação da injustiça por parte de Deus. Seja qual aspecto possua, a injustiça é alcançada, consumida e aniquilada pela vida de Deus. E pelo fato de não existir um ser humano que em suas próprias potencialidades consiga restabelecer os laços que a própria humanidade rompeu com Deus é que o próprio Deus por uma sucessão de castigos e perdões deixa claro que o excesso de pecado exige uma definitiva rejeição de onde se erguerá a promessa de uma salvação definitiva (Dt 30,15-20). Nesta mesma tradição Paulo vê a consumação de toda a Antiga Aliança na cruz e Ressurreição de Jesus.                                                                                      
Nenhum outro, a não ser o próprio Deus garante os dois lados da Aliança como homem-Deus, Ele não apenas elimina a injustiça por meio de compromissos, mas faz toda a sua justiça consumir a injustiça do mundo com o intuito de tornar acessível a todos a sua justiça. Desta purificação, Deus é ao mesmo tempo sujeito e objeto do julgamento e da justificação ao tomar o partido dos homens e defender a causa de Deus em favor deles. Para H.U.von Balthasar, é na cruz

Onde Deus assume sobre si enquanto Cristo homem toda a culpa de Adão (Rm 5,15-21) a fim de se entregar (Rm 4,25) como personificação viva do pecado e da inimizade (2Cor 5,21; Ef 2,14) à condenação da parte de Deus (Rm 8,3) é para ser ressuscitado por Deus, como vida de Deus morta e sepultada em meio ao abandono divino por causa de nossa justificação (Rm 4,25). E isto não é tomado em sentido mítico [...] e nem deve ser atenuado, naquilo que se refere à Cruz de Cristo, como se o crucificado tivesse recitado Salmos numa íntima e imperturbada comunicação com Deus e tenha morrido na paz divina.[1]                                                                 
Mas é João quem expõe o caráter judicial da cruz com uma radicalidade superior à de Paulo. Embora pareçam contraditórios, pois de um lado Jesus é o autor e senhor de todo juízo (5,22), é exercido por Ele mesmo (8,16. 26) e para isto ele veio ao mundo (9,39), de um outro, Ele não veio para julgar e sim para salvar (3,17; 12,47). Todavia, sua existência realiza o juízo (3,18) que se une à exaltação na cruz (12,31) onde o Espírito Santo lhe apresentará ao mundo como inocente. Percebe-se que na teologia de João, Glória e Cruz não são momentos distintos, mas é na cruz que revela a glória. Então fica mais claro em que sentido a hora em João significa glorificação e julgamento. Este juízo por sua vez é provado subjetivamente como perturbação (12,27) e objetivamente significa rompimento e isto quer dizer que

 Na cruz não há nenhum livro da Sabedoria, pois que a própria luz do mundo se obscureceu, a ‘hora das trevas’ venceu-a, e toda a Sabedoria de Deus se tornou ‘loucura’, para destruir a ‘sabedoria dos sábios’ (1 cor 1,19-21).[2]
Este sofrimento se explicita na imagem utilizada por Jesus: o Cálice que representa a ira divina que o pecador deve beber (Is 51,17. 22; Jr 25,15; Ez 23,31ss; Sl 75,9). E pelo Batismo que encontra um paralelo no Antigo Testamento com as águas que a tudo consomem (Is 43,2; Sl 42,8; 69,2s). Neste ser mergulhado nas águas é que se realiza o juízo sobre o mundo (Jo 12,31) e assim o velho mundo conhece a ruína em contato com a cruz de Cristo. Posto que ao atingir Jesus, nada encontra nele sobre o qual o antigo poderio deste mundo possa exercer seu poderio (Jo 14,30).







[1] Idem. p.82
[2] BALTHASAR, Hans Urs Von, O Cristão e a Angústia. p.50

Meditações sobre a Cruz do Senhor - A cruz como evento trinitário

A cruz é um escândalo. Todavia é o único fato do qual um cristão deve se gloriar (Gl 6,14). Como assimilar e até se gloriar de um escândalo? Para H.U.von Balthasar isto só é possível se olharmos para a cruz como um evento da Trindade. É o Pai quem toma a iniciativa (2Cor 5,18). Esta iniciativa da reconciliação é concretizada pelo Filho e a prova de sua efetividade é o Espírito Santo (Rm 8, 1.6; 9,10). Desta forma a cruz resplandece como meio de reconciliação do mundo com Deus. Esta é a única maneira de se interpretar a cruz. Posto que a partir dela temos a manifestação plena do amor de Deus como afirma H.U. von Balthasar:
Amor de Deus Pai que, no acontecimento da cruz se manifesta mais forte que todas as potencias do mundo.[...] e amor de Cristo que se mostra em sua entrega por nós [...] o parêntesis  deste duplo amor que abarca em todo caso tudo o que acontece dentro do parêntesis como ato de reconciliação, mas que não pode, com motivo do parêntesis, voltar-se não redimido e vão [1]
Por conta disso não há sentido teorias sobre possíveis formas de reconciliação do mundo como se um decreto divino, ou pontualmente a Encarnação ou ainda uma única gota de sangue de Cristo fossem suficientes para redimir a humanidade. Vale lembrar que
Deus é o fundamento e o sentido de seu próprio agir no mundo, e que somente a tolice pode, abstraindo de sua ação real, procurar outra forma possível de ação, mas que é preciso dizer positivamente que tornar-se solidário com os que se perderam significa mais do que morrer, exterior e representativamente por elas, [...] significa uma aceitação livre e singular da culpa do mundo pelo Filho interiormente único do Pai, cujo divina-humanidade é também aquele unicamente capaz de um tal encargo.[2]
            Por este motivo é que no Gólgota se realiza o único sacrifício de eficácia absoluta (Hb 7-9). Todos os demais sacrifícios neste se cumprem e são superados. No acontecimento da cruz fica patente que Deus não tolera o pecado. Ele não pode amar o pecado e o mal se encontra em total contradição com a natureza divina; Por isso, “Deus não pode perdoar o pecado sem expiação. A pura anistia é ignorância do mal, a qual diminui a gravidade do pecado ou mesmo lhe reconhece o direito de existência.” [3] É essa ira divina encontrada em todo o Antigo Testamento que Jesus deve conduzir ao seu fim escatológico em sua Paixão. Eis a outra face da moeda do amor, pois amar o bem não seria possível sem a Ira contra o mal e a injustiça.                                                                                                                                  
Em resumo, devemos olhar para a cruz em seu enraizamento trinitário e sua abertura à Trindade. Do contrário, nunca alcançaremos aquilo que a Cruz deseja revelar. E a cruz do Filho é revelação do amor do Pai (Rm 8,32; Jo 3,16) e a efusão do sangue deste amor se realiza interiormente, mediante a efusão de seu comum espírito no coração dos homens (Rm 5,5).







[1] BALTHASAR, Hans Urs Von, Gloria. Tomo VII. p.170
[2] Idem, Mysterium Paschale, p.95
[3] Idem p.96