domingo, 21 de abril de 2013

Homilia para o IV Domingo da Páscoa



Estamos no IV Domingo da Páscoa. Este Domingo é conhecido como Domingo do Bom Pastor. A cada ano são ressaltados neste domingo aspectos diferentes acerca de Jesus Bom Pastor. Esta não é uma imagem desconhecida ao povo das Sagradas Escrituras porque já no primeiro livro da Bíblia encontramos um Pastor que por seu destino, demonstra o que será sempre o futuro do verdadeiro pastor. Refiro-me a Abel, o justo. A carta aos hebreus traça um paralelo entre Abel e Jesus, afirmando que o sangue de Jesus é mais eloquente que o de Abel e faz deste uma profecia sobre o Supremo Pastor. A origem do povo israelita evoca a figura do pastor, pois a Palestina é uma região árida e o povo era nômade, isto é, não tinha fixação para sua permanência, vivia em tendas perambulando pelo deserto, buscando sempre lugares para que seus rebanhos de ovelhas pudessem se alimentar.
Também Abraão, o pai na fé exercia o oficio de pastor quando foi escolhido por Iahweh (Gn 12,2). A partir daí Abraão se torna um itinerante buscando a terra que Deus prometeu. Moisés é também um pastor de ovelhas que é convertido em pastor do próprio povo conforme lemos em Ex 3. A tradição dos Salmos traz uma imagem de Deus como Pastor que conduz: “O Senhor é o meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças”. (Sl 22,1-2).
O Pastor Eterno que é Deus constitui pastores que devem conduzir o povo: “Darei a vocês pastores de acordo com o meu coração, e eles guiarão vocês com ciência e sensatez” (Jr 3,15). A possibilidade de conduzir o povo de Deus vem do próprio Senhor o que aumenta a responsabilidade de quem tem a direção da vida das pessoas. Embora esta autoridade venha do alto, o coração dos homens está propenso a grandes desvios e o que se viu na história do Povo de Deus é que a maioria dos reis de Israel não correspondeu à sua vocação e esses reis foram maus pastores que caminharam e conduziram o povo de Iahweh por caminhos da morte e da desgraça, provocando a dispersão do rebanho.
A partir deste momento, a imagem do pastor sofre uma mudança de perspectiva e passa a ser envolvida pela desconfiança. Temos então duas perspectivas acerca do Pastor: a primeira é que o Senhor Deus será o Pastor “Eu mesmo conduzirei as minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar – oráculo do Senhor Iahweh.” (Ez 34,15).  A segunda, vindo dos homens, o pastor é apenas uma profissão. E na cultura religiosa de Israel, uma profissão impura.
Feita esta contextualização podemos entender que Jesus assume para si no capítulo 10 de João aquilo que é a expectativa de intervenção divina na condução do seu Povo. Cabe a nós agora desenvolver na conduta de Jesus a construção de sua imagem de Pastor.  Vemos em Mt 9,36 que Jesus expressou que seu jeito de ser pastor está versado na compaixão pois ele viu uma grande multidão e se compadeceu dela porque estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor.  Também na parábola da ovelha perdida (Lc 15,5), ao falar de um pastor que ao encontrar a ovelha se alegra. Alegria e Compaixão são marcantes na vida do Pastor Jesus.  E em João, o faz de forma mais direta:“Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem”. (Jo 10,14).  
Jesus é o Bom Pastor, não distante de suas ovelhas, e sim conhecedor das mesmas por ser participante da vida de cada uma delas.  Este jeito afável para com as ovelhas é a marca pela qual as ovelhas o conhecem e se identificam de tal modo com ele a ponto de não seguir a voz de um estranho. O título de Bom Pastor dado a si, é expressão da bondade de Jesus. Ele é bom porque somente ele dá a vida pelas ovelhas. (Jo 10,11). Daqui percebemos COMPAIXÃO, ALEGRIA, BONDADE como fundamentos do ser Pastor. E enfim, entramos no Evangelho específico deste Domingo:

“Disse Jesus: ‘As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um’”.
O principio de identidade das ovelhas com o pastor, a garantia de se viver como ovelhas é a atenção à Palavra de Jesus que é o verdadeiro alimento: a Palavra se fez carne e alimentou o mundo com sua carne, estamos diante da relação entre Palavra e Eucaristia. Sem a atenção à Palavra que aquece o coração não se torna possível reconhecer Jesus no Pão partilhado. Mas, quem são as ovelhas que Jesus chama de as suas ovelhas? Com certeza estas ovelhas não constituem um clube dos salvos como muitos desejam. Esta segregação não cabe dentro dos liames da compaixão do Eterno Pastor: “porque eu não vim para chamar os justos, e sim os pecadores”. (Mt 9,13). Os que já se acham santos não verão a necessidade de salvação. Nem terão consciência da necessidade de alguém que os conduza: “de fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.” (Lc 19,10); Este tipo de ovelhas não serão capazes de reconhecer a voz do pastor porque são orgulhosas demais para isso. Como um homem e uma mulher carregados pelo orgulho poderão reconhecer que “sem mim vocês não podem fazer nada.” (Jo 15,5).
O desejo do Pastor Jesus é conduzir todas as ovelhas, mesmo as que não estão em seu aprisco: “Tenho também outras ovelhas, que não são desse curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor.” (Jo 10,16). Muitas vezes, as ovelhas não estão mais no redil de Cristo porque os muitos pastores por ele designados não pastoreiam o povo a eles confiados, são pastores de si mesmos! Não demonstram amor algum. E sobre o amor lembremos que no Domingo passado, era esta a temática: “Tu me amas? [...] Apascenta minhas ovelhas.” Sem o amor às ovelhas, não se pode falar de amor a Cristo. Além da COMPAIXÃO, ALEGRIA, BONDADE, podemos ver a ORAÇÃO que une de modo inegociável o Pastor com suas ovelhas. Percebemos isso no gesto de FRANCISCO, o Papa, ao pedir que o Povo presente na Praça de São Pedro rezasse por ele. E nesta oração que é fundamental, o Pastor Jesus pede que roguemos pelo futuro de nossos pastores:  “Peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita.” (Mt 9,37-38).
Na certeza de que Cristo nos conduz, peçamos por todos aqueles que já foram confirmados pelo Sacramento da Ordem e por todos os que estão a caminho para que fiéis ao Senhor, tenham amor pela Igreja Povo Santo de Deus a caminho de conversão, entre as angústias e esperanças de cada dia!

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