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terça-feira, 30 de abril de 2013
Carta a Diogneto
Capítulo I - Exórdio
Excelentíssimo Diogneto,
Vejo que te interessas em aprender a religião dos
cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente te informaste sobre eles: Qual é
esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles desdenhem o
mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos reconhecem,
nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles têm uns para
com os outros; e, finalmente, por que esta nova estirpe ou gênero de vida
apareceu agora e não antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o qual
preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer de tal
modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa
aquele que falou.
Capítulo II - Refutação da idolatria
Comecemos. Purificado de todos os preconceitos
que se amontoam em sua mente; despojado do teu hábito enganador, e tornado,
pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como confessas, uma doutrina
nova, vê não somente com os olhos, mas também com a inteligência, que
substância e que forma possuem os que dizeis que são deuses e assim os
considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro é bronze,
não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos; outro é
madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém que o
guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela ferrugem;
outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços mais vis?
Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro e o fogo?
Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro? Não é
verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora têm, cada
um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os mesmos artesãos
trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora vemos, não
poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses que
adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios
semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas,
insensíveis, imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas
coisas chamais de deuses, as servis, as adorais, e terminais sendo semelhante a
elas. Depois, odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses.
Contudo, vós que os julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do que
eles? Por acaso não zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que
venerais deuses de pedra e de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto
fechais à chave, durante a noite, aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia
colocais guardas para que não sejam roubados? Com as honras que acreditais
tributar-lhes, se é que eles têm sensibilidade, na verdade os castigais com
elas; por outro lado, se são insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios
de sangue e gordura. Caso contrário, que alguém de vós prove essas coisas e
permita que elas lhe sejam feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria
tal suplício, porque tem sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta
tudo, porque é insensível. Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre
o motivo que os cristãos têm para não se submeterem a esses deuses. Se o que eu
disse parece insuficiente para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma
coisa.
Capítulo III - Refutação do culto judaico
Por outro lado, creio que desejais
particularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira dos judeus. Os
judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que falamos antes, e prestam
culto a um só Deus, considerando-o Senhor do universo.Contudo, erram quando lhe
prestam um culto semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos demonstram
idiotice, sacrificando a coisas insensíveis e surdas, eles também, pensando em
oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse necessidade delas, realizam algo
que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez o céu e a terra, e
tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que necessitamos, não tem
necessidade nenhuma desses bens.Ele próprio fornece as coisas àqueles que
acreditam oferece-las a ele. Aqueles que crêem oferecer-lhe sacrifícios com
sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses atos, não me parecem
diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos surdos, que não podem
participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo a quem de nada
precisa.
Capítulo IV - O ritualismo judaico
Não creio que tenhas necessidade de que eu te
informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos alimentos, a sua
superstição sobre os sábados, seu orgulho da circuncisão, seu fingimento com
jejuns e novilúnios, coisas todas ridículas, que não merecem nenhuma
consideração. Não será injusto aceitar algumas das coisas criadas por Deus para
uso dos homens como bem criadas e rejeitar outras como inúteis e supérfluas?
Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos proíbe fazer algum bem em
dia de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da mutilação do corpo como
sinal de eleição, acreditando, com isso ser particularmente amados por Deus? E
o fato de estar em perpétua vigilância diante dos astros e da lua, para
calcular os meses e os dias, e distribuir as disposições de Deus, e dividir as
mudanças das estações conforme seus próprios impulsos, umas para festa e outras
para luto? Quem consideraria isto prova de insensatez e não de religião? Penso
que agora tenhas entendido suficientemente por que os cristãos estão certos em
se abster da vaidade e do engano, assim como das complicadas observâncias e das
vanglórias dos judeus. Não creias poder aprender do homem o mistério de sua
própria religião.
Capítulo V - Os mistérios cristãos
Os cristãos, de fato, não se distinguem dos
outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito,
não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo
especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e
a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento
humano. Pelo contrário, vivendo em casa gregas e bárbaras, conforme a sorte de
cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao
resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na
sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam
tudo como estrangeiros.Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é
estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os
recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não
vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem
as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são
perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são
mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos;
carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo,
tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são
injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos
como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos
judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a
aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.
Capítulo VI - A alma do mundo
Em poucas palavras, assim como a alma está no
corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada por todas as
partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo. A alma habita
no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não são
do mundo.A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são
vistos no mundo, mas sua religião é invisível. A carne odeia e combate a alma,
embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a impede de gozar
dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos, o mundo os
odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os membros que
a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma está contida no
corpo, mas é ela que sustenta o corpo; também os cristãos estão no mundo como
numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo.A alma imortal habita em uma
tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas que se
corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em comidas e
bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a cada dia
mais se multiplicam. Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é
lícito dele desertar.
Capítulo VII - Origem divina do
cristianismo
De fato, como já disse, não é uma invenção humana
que lhes foi transmitida, nem julgam digno observar com tanto cuidado um
pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios humanos. Ao
contrario, aquele que é verdadeiramente senhor e criador de tudo, o Deus
invisível, ele próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a verdade, a
palavra santa e incompreensível, e a colocou em seus corações. Fez isso, não
m,andando para os homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus servos,
ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas terrestres, ou
algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas o próprio
artífice e criador do universo; aquele por meio do qual ele criou os céus e
através do qual encerrou o mar em seus limites; aquele cujo mistério todos os
elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as medidas que
deve observar em seu curso cotidiano; aquele a quem a lua obedece, quando lhe
manda luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrelas que formam o
séqüito da lua em seu percurso; aquele que, finalmente, por meio do qual todo
foi ordenado, delimitado e disposto: os céus e as coisas que existem nos céus,
a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem no mar,
o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e o que
está no meio. Foi esse que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia pensar,
será que o enviou para que existisse uma tirania ou para infundir-nos medo e
prostração? De modo algum. Ao contrário, enviou-o com clemência e mansidão,
como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem para os
homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar, pois em
Deus não há violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar; enviou-o,
finalmente, para amar, e não para julgar. Ele o enviará para julgar, e quem
poderá suportar sua presença? Não vês como os cristãos são jogados às feras,
para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais
são castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam? Isso não parece
obra humana. Isso pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.
Capítulo VIII - A Encarnação
Quem de todos os homens sabia o que é Deus, antes
que ele próprio viesse? Quererás aceitar os discursos vazios e estúpidos dos
filósofos, que por certo são dignos de toda fé? Alguns afirmam que Deus é o
fogo - para onde irão estes, chamando-o de deus? - Outros diziam que é água.
Outros ainda que é dos elementos criados por Deus. Não há dúvida de que se alguma
dessas afirmações é aceitável, poderíamos também afirmar que cada uma de todas
as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas todas essas coisas são
charlatanices e invenções de charlatões. Nenhum homem viu, nem conheceu a Deus,
mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé, unicamente pala
qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e criador do universo, que fez todas
as coisas e as estabeleceu em ordem, não só se mostrou amigo dos homens, mas
também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e o será: clemente, bom,
manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido grande e inefável
projeto, ele o comunicou somente ao Filho. Enquanto o mantinha no mistério e
guardava sua sábia vontade, parecia que não cuidava de nós, não pensava em nós.
Todavia, quando, por meio de seu Filho amado, revelou e manifesto o que tinha
estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas as coisas: não só
participar de seu benefícios, mas ver e compreender coisas que nenhum de nós
teria jamais esperado.
Capítulo IX - A economia divina
Quando Deus dispôs todo em si mesmo juntamente
com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu que nós, conforme a nossa
vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados, levados por
prazeres e concupiscências. Ele não se comprázia com os nossos pecados, mas
também os suportava. Também não aprovava aquele tempo de injustiça, mas
preparava o tempo atual de justiça, para que nos convencêssemos de que naquele
tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos da vida, e agora, só pela
bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse claro que por
nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que somente pelo seu
poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça chegou ao máximo e ficou
claro que a única retribuição que poderiam esperar era castigo e morte, chegou
o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua bondade e o seu poder. Oh
imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou, nem guardou
ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se paciente e nos suportou.
Com, misericórdia tomou para si os nossos pecados e enviou o seu Filho para nos
resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos,
o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. De fato, que outra
coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a sua justiça? Por meio de quem
poderíamos ter sido justificados nós, injustos e ímpios, a não ser unicamente
pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra insondável, oh inesperados
benefícios! A injustiça de muito é reparada por um só justo, e a justiça de um
só torna justos muitos outros. Ele antes nos convenceu da impotência da nossa
natureza para ter a vida; agora mostra-nos o salvador capaz de salvar até mesmo
o impossível Com essas duas coisas, ele quis que confiássemos na sua bondade e
considerássemos nosso sustentador, pai, mestre, conselheiro, médico,
inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem preocupações com a roupa e o
alimento.
Capítulo X - A essência da nova religião
Se também desejas alcançar esta fé, primeiro
deves obter o conhecimento do Pai. Deus, com efeito, amou os homens. Para eles
criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão sobre a terra.
Deu-lhes a palavra e a razão, e só a eles permitiu contemplá-lo. Formou-os à
sua imagem, enviou-lhes o seu Filho unigênito, anunciou-lhes o reino do céu, e
o dará àqueles que o tiverem amado. Depois de conhece-lo, tens idéia da alegria
com que será preenchido? Como não amarás aquele que tanto te amou? Amando-o, tu
te tornarás imitador da sua bondade. Não te maravilhes de que um homem possa se
tornar imitador de Deus. Se Deus quiser, o homem poderá. A felicidade não está
em oprimir o próximo, ou em querer estar pro cima dos mais fracos, ou enriquecer-se
e praticar violência contra os inferiores. Deste modo, ninguém pode imitar a
Deus, pois tudo isto está longe de sua grandeza. Todavia, quem toma para si o
peso do próximo, e naquilo que é superior procura beneficiar o inferior; aquele
que dá aos necessitados o que recebeu de Deus, é como Deus para os que
receberam de sua mão, é imitador de Deus. Então, ainda estando na terra,
contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de
Deus, amarás e admirarás os que são castigados por não querer negar a Deus.
Condenarás o erro e o engano do mundo, quando realmente conheceres a vida no
céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte, e temeres a morte
verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentarás
até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres este fogo, ficarás
admirado, e chamarás de felizes aqueles que, com justiça, suportaram o fogo
passageiro.
Capítulo XI - O discípulo do Verbo
Não falo de coisas estranhas, nem busco coisas
absurdas. Discípulo dos apóstolos, torno-me agora mestre das nações e transmito
o que me foi entregue para aqueles que se tornaram discípulos dignos da
verdade. De fato quem foi retamente instruído e gerado pelo Verbo amável, não
procura aprender com clareza o que o mesmo Verbo claramente mostrou aos seus
discípulos? O Verbo apareceu para eles, manifestando-se e falando livremente.
Os incrédulos não o compreenderam, mas ele guiou os discípulos que julgou
fiéis, e estes conheceram os mistérios do Pai. Deu enviou o Verbo como graça,
para que se manifestasse ao mundo. Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos
apóstolos a acreditado pelos pagãos. Desde o princípio e apareceu como novo e
era antigo, a agora sempre se torna novo nos corações dos fiéis. Ele é desde sempre,
e hoje é reconhecido como Filho. Por meio dele, a Igreja se enriquece e a graça
se multiplica, difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela
os mistérios e anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a
buscam, sem infringir as regras da fé nem ultrapassar os limites dos Padres.
Celebra-se então o temor da lei, reconhecesse a graça dos profetas, conserva-se
a fé dos evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja
exulta. Não contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que
ele quer e quando quer. Com efeito, quantas coisas fomos levados a vos explicar
com zelo pala vontade do Verbo que no-las inspira! Nós vos comunicamos por amor
essas mesmas coisas que nos foram reveladas.
Capítulo XII - A verdadeira ciência
Atendendo e ouvindo com cuidado, conhecereis que
coisas Deus prepara para os que o amam com lealdade. Transformam-se em paraíso
de delícias, produzindo em si mesmos uma arvora fértil e frondosa, ornados com
toda a variedade de frutos. Com efeito, neste lugar foi plantada a árvore da
ciência e a arvora da vida; não é a arvora da ciência que mata, e sim a
desobediência. Não é sem sentido que está escrito: No princípio Deus plantou a
arvora da ciência da vida no meio do paraíso, indicando assim a vida por meio
da ciência. Contudo, por não tê-la usado de maneira pura, os primeiros homens
ficaram nus por causa da sedução da serpente. De fato, não há vida sem ciência,
nem ciência segura sem verdadeira vida, e por isso as duas árvores foram
plantadas uma perto da outra. Compreendendo essa força e lastimando a ciência
que se exercita sobre a vida sem a norma da verdade, o Apóstolo diz: “A ciência
incha; o amor, porém, edifica.” De fato, quem pensa que sabe alguma coisa sem a
verdadeira ciência, testemunhada pela vida, não sabe nada: é enganado pala
serpente, não tendo amado a vida. Aquele, porém, que sabe com temor e procura a
vida, planta na esperança, esperando o fruto. Que a ciência seja coração para
ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente compreendido. Levando a arvora dele e
produzindo fruto, sempre colherás o que é agradável diante de Deus, o que a
serpente não toca, nem se mistura em engano; nem Eva é corrompida, mas
reconhecida como virgem. A salvação é mostrada, os apóstolos são compreendidos,
a Páscoa do Senhor se adianta, os círios se reúnem, harmoniza-se com o mundo e,
instruindo os santos, o Verbo se alegra, pelo qual o Pai é glorificado. A ele,
a glória pelos séculos. Amém.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
ESCLARECIMENTOS
Neste blog existe uma série de postagens de 19 de novembro de 2011 sobre o Sínodo. Esta série esta intitulada ANSEIOS PARA O SÍNODO. É só pesquisar caso se interesse. Agora concluo com a formação do Povo de Deus, já que nas antigas postagens falei sobre a formação acadêmica dos candidatos ao sacerdócio e diaconato permanente. Não sei se estas postagens servirão a alguém algum dia, entretanto, sinto- me feliz por concluir minha contribuição.
Anseios para o Sínodo - A formação do Povo de Deus
O Concílio Vaticano II, atento aos sinais dos
tempos, apresentou a visão da Igreja acerca da atuação dos leigos. Fala-se
desde então de um protagonismo dos leigos. No entanto, a distinção quase antagônica
entre o Povo e o Clero em determinados lugares e setores tem se tornado cada
vez mais acirrada.
Sendo de suma importância no anúncio do Reino de
Deus, o Povo de Deus tem direito a uma sólida e bem articulada formação teológica
em vista de uma empenhada ação pastoral. Essa formação não é em vista de um
arcabouço teórico sem via e sim em razão de uma nova ação do mundo que traz em
si sinais de vida e de morte diante dos quais os cristãos devem ter clareza de consciência
e coragem. Formar o Povo de Deus é dar a este povo a força para fortalecer e
renovar as interações sociais, dinamizar o anúncio do Evangelho, aconselhando,
acompanhando para que na verdade da fé alcance a maturidade no mundo. Estes objetivos devem ter como luz a pedagogia
bíblica que não consagrava o
academicismo, mas lidava com a definição e resolução de problemas pastorais em
seus aspectos doutrinários e práticos, de modo a produzir uma conduta digna de
Cristo. Isso pressupõe familiaridade com a Palavra de Deus, submissão a ela e
aptidão para expô-la de maneira contextual e relevante mediante o uso dos
recursos disponíveis.
É necessário afirmar que os recursos necessários
para a Formação do Povo de Deus são a Palavra de Deus, o Espírito de Deus e o
próprio povo de Deus capacitado pelo Espírito. Esse processo de formação é
entendido como intelectual por promover a compreensão da Palavra de Deus e à
luz da mesma compreender nossa realidade pastoral. É também espiritual, porque
se entende como fruto da ação do Espírito Santo de Deus que promove a mudança
de vida. E é ainda comunitária por ser expressão da identidade do Povo de Deus
que deve ser conduzido conscientemente evitando que ações individualizadas que podem
até surtir algum efeito, mas por ser individualizada não tem muito tempo de
duração.
Dificuldades, Necessidades, Limitações e Desafios
Quais são as dificuldades neste processo formativo?
1. O fato de estarmos em uma
crescente de informatização social, não quer dizer que estejamos em uma
sociedade informada. Pelo contrário, temos assistido uma confusão ideológica
que gera improvisação, marginalidade e luta desesperada pela sobrevivência.
2. O naufrágio de algumas utopias tem gerado um vazio existencial e consequentemente um conformismo social. Neste contexto, o discurso ideológico corre o risco de não ser capaz de contornar este vazio e perder suas referências.
3. Um profundo relativismo ético
que tem atingido a sociedade, encontra-se também dentro da Igreja. Este
relativismo tem atingido a identidade da Igreja de modo que vemos o risco de
uma redução a uma religião de marketing que aceita sem nenhuma crítica o que lhe
vem imposto do mundo, adequando-se a ele. Ou um Catolicismo Self Service no
qual cada paróquia vive sua própria Igreja.
4. Um sentimentalismo religioso tem domesticado a razão. Como consequência disto, a meditação teológico se tornou perda de tempo tanto para os candidatos ao sacerdócio quanto aos fiéis.
5. Um protestantismo católico no
qual padres tendem a tornar a Missa um tipo de culto evangélico, diferenciado
apenas pela presença da Eucaristia. Isto faz com o que o Povo desconsidere
qualquer iniciativa em vista de sua própria formação.
Muitos
outros desafios poderiam ser apontados, mas estes nos são já suficientes a
título de contextualização.
Objetivos:
Qualquer projeto formativo do Povo de Deus deve ter os seguintes objetivos:
(1) Promover
o amadurecimento da Fé que deve ser expressa na comunhão regular com Deus, expressa
na escuta e meditação da Palavra, na vivência comunitária, alimentada pelos
Sacramentos e demonstrada no serviço ao mundo, do qual o Cristão deve ser
evangelizador
(2) Alimentar
o reconhecimento da necessidade de uma vivência de fé em comunidade, alimentada
pelo perdão e pela experiência do amor de Deus.
(3) Ter
em vista a missão em um mundo muito necessitado de paz, de pão e de Deus.
Propostas:
Em vista de uma prática pastoral efetivamente
libertadora, capaz de tocar o coração das pessoas pela força do Evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo, a deve estar atenta para a formação dos seus agentes
e do Povo de Deus por inteiro. O fundamento desta formação é a própria Palavra
de Deus
1. Igreja que escuta a Palavra de Deus e a
anuncia
A acolhida da Revelação por meio das Escrituras, o anúncio da Palavra de
Deus, balizada pela sadia Tradição e a
sua interpretação feita pelo Magistério
da Igreja, constitui os pilares essenciais de fé da Igreja. A Palavra de Deus
deve estar presente na vida das comunidades alimentando a fé, a esperança e a
caridade, enchendo de luz a nossa vida e nosso cotidiano, conferindo sentido aos
sofrimentos, energia e inspiração para os desafios. À Palavra de Deus
corresponde o ministério da Palavra, como a Catequese, a formação bíblica de
maneira organizada, os grupos de catecumenato, a espiritualidade bíblica, etc.
É grande a preocupação da Igreja
Católica em favorecer o acesso dos seus fiéis à Palavra de Deus, não apenas fazendo
campanhas para que seus fiéis comprem a Sagrada Escritura, mas oferecendo algo
mais, uma leitura orante para que a vida seja lida à luz da Palavra de Deus.
Por isso, em seu Plano
de Ação Evangelizadora, a Arquidiocese da Paraíba decidiu dedicar este ano à
Palavra de Deus. Ressaltando o fato de que a preocupação acerca da Palavra não
é de apenas um ano, mas de sempre. Sete linhas de trabalho foram apresentadas
no que corresponde a uma vivência mais profunda e organizada da Palavra de
Deus.
1.1. Organizar a
Pastoral Bíblico Catequética;
Esta linha de trabalho visa formar
animadores e ministros para a catequese bíblica. Para alcançar este objetivo, a
Arquidiocese da Paraíba deseja criar Escolas Bíblico-Catequéticas em suas nove
regiões. Promovendo assim, estudos bíblicos, através dessas escolas, Círculos
Bíblicos, encontros e meios de comunicação. Urge para isto, a necessidade de
uma Coordenação a nível de Arquidiocese e o apoio ao Cebi.
A formação Bíblico – Catequética
também visa preparar em nossas paróquias as pessoas, de uma forma especial, os
catequistas para que tenham um melhor aporte para a Catequese sacramental. Para
isso, pensa-se a unificação dos roteiros catequéticos utilizados para o
Batismo, Crisma, Primeira Eucaristia e Perseverança. É comprovada pela história a força evangélica dos leigos na
Arquidiocese da Paraíba. Homens e mulheres que fazem de sua vida uma entrega ao
serviço do Evangelho nas diversas comunidades por meio das ações litúrgicas e
da catequese. A esta boa vontade e disponibilidade evangélicas destas pessoas
terminam por esbarrar nas poucas oportunidades de formação, nas dificuldades
relativas aos subsídios para catequese e despreparo para as funções litúrgicas.
É verdade também que algumas iniciativas louváveis já se encontram em nosso
meio como a Escola Ministerial, o curso de Teologia Pastoral, a Escola de Fé e
Política, o Catecumenato, os pequenos círculos da Palavra espalhados por nossas
regiões, mas é igualmente verdadeiro o fato de termos a necessidade de aumentar
o seu arco de atividades.
Desta
formação carente vem um grande desafio para a Arquidiocese da Paraíba, porque
devido à pouca formação ou informação, muitos de nossos irmãos e irmãs,
sobretudo os mais simples terminam por sucumbir diante das investidas daqueles
que utilizam a Sagrada Escritura não como instrumento de anúncio do Evangelho,
mas como um meio de criticar, confundir e condenar. É nosso dever como Igreja colocar a Bíblia na mão do povo. E esta
afirmação é muito mais densa do que iniciar campanhas para comprar Bíblias em
longa escala. Se não contentarmos com isto, deixaremos o nosso povo na mesma
situação do Eunuco apresentado nos Atos dos Apóstolos, que embora tivesse o
texto nas mãos não conseguia entender. Colocar a Bíblia na mão do povo deve ser
o primeiro passo para em seguida coloca-la nos seus corações, conduzindo o
nosso povo a uma vivência madura da fé em Cristo mediante os Sacramentos e o
dia a dia. Como então faremos isto? Este é o desafio e estas são as pistas de
ação:
Anseios para o Sínodo - A formação do Povo de Deus - PARTE III
1.1.1 Criação das
Escolas da Fé:
Muitas pessoas são católicas apenas por
conveniência social ou porque na história das suas famílias todos sempre foram
católicos, assim, nós encontramos a seguinte máxima: meu avô era católico, meu pai também e por isso eu que nasci nesta Lei
morrerei nela! A esta fé de coração
puro e tranqüilo temos o dever de fortalecer convicções e clareza para que
todos tenham condições de dar razões para sua fé.
A
Escola da Fé por sua própria estrutura consiste em ser um espaço para que as
pessoas possam colocar em comum suas dúvidas, esclarecendo pontos que não
pareçam claros, adquirindo a devida fundamentação para que se fortaleçam na fé
e confirmem os irmãos. Entretanto, a Escola da Fé não pode ser um resumo de um
curso de teologia, nem muito menos algo muito longo. Devemos elaborar um
conteúdo sistemático que tome por base a realidade de nosso povo. A referência
é o próprio Mestre Jesus que dirigia sua Palavra à comunidade reunida,
utilizando a linguagem do povo, a partir dos símbolos do próprio dia a dia,
(semente, água, videira, pedra, joio, jóia, etc.), uma forma pedagógica para
fazer com que as palavras sejam sempre guardadas, fazendo-se compreender.
Uma Escola da Fé pode ser articulada de
muitos modos e cada um tem sua especificidade e riqueza. Agora seguem
sugestões:
a. Uma Escola da Fé com quarto módulos;
Com quatro módulos este
estilo de Escola da Fé tem como ponto de partida a Sagrada Escritura. Cada
módulo se estende por um semestre de forma mais específica, 15 encontros. O
primeiro módulo é uma apresentação do Antigo Testamento, passando pela
estrutura da Sagrada Escritura, pela forma como o povo de Deus utilizava a
Escritura para interpretar e iluminar a sua vida.
O
segundo módulo consiste no estudo do Novo Testamento, também durando um
semestre, 15 encontros. A partir de um olhar para os Evangelhos, estabelecer um
encontro com Jesus e um maior conhecimento de sua pessoa, seu anúncio e nossa
missão como Igreja.
O Terceiro módulo se caracteriza por um aprofundamento sobre a teologia dos sacramentos, destinado a todas as pessoas que desejem conhecer um pouco mais sobre a realidade dos sacramentos, é de suma importância que todos os catequistas de primeira Eucaristia, Crisma, monitores de Batismo, leigos que celebram a Palavra e ministros extraordinários da Comunhão devem participar. Este módulo também tem duração de um semestre, 15 encontros.
Este estilo de Escola da Fé se encerra com o quarto módulo que também tem duração de um semestre, 15 encontros, sobre a Liturgia da Igreja, as celebrações da palavra por ministros leigos, a estrutura da celebração eucarística, os roteiros de celebração, etc.
Neste estilo de Escola da Fé, todos os
fiéis podem participar, e de uma forma especial chegamos aos catequistas pelo
terceiro módulo e pelo quarto módulo chegamos até as nossas equipes de
liturgia. Pode ser posto em prática nas paróquias ou nas regiões.
b. Uma Escola da Fé
a partir de pequenos ciclos;
Outra possibilidade de se trabalhar a
Escola da Fé, é a partir de pequenos
ciclos. Estes ciclos respeitam o tempo litúrgico ou momentos fortes da nossa
religiosidade. O início seria no mês que se costuma dedicar à Sagrada
Escritura, com quatro encontros. Com a proximidade do Advento, retoma-se para
um breve estudo os Evangelhos da Infância, na Quaresma os relatos da Paixão nos
quarto Evangelhos, no mês de maio, um olhar para a virgem Maria, sua vida e papel
na obra de Jesus. Além
dessas sugestões, outros temas podem ser também desenvolvidos durante o tempo
comum, dependendo da necessidade e prioridades presentes nas paróquias.
c. Uma Escola da
Fé itinerante;
Uma possibilidade muito proveitosa
consiste em levar a Escola da Fé para as nossas regiões de forma itinerante.
Nossas nove regiões seriam visitadas e a cada visita uma paróquia diferente
serviria como sede para os encontros que teriam início na sexta a noite,
durariam todo o sábado e domingo. Nestes encontros celebraríamos a Eucaristia
como região, estudaríamos juntos durante um fim de semana. Mas estes encontros
não podem se resumir a um fim de semana.
Este
estilo de Escola da Fé tem como conteúdo programático o mesmo do primeiro
modelo, com um cronograma que possibilite a presença da Equipe da Escola da Fé
na região duas vezes por semestre. Em caso de regiões cuja geografia dificulte,
pode-se, para estes encontros, dividir a região em duas.
d. Uma Escola da Fé mínimo do mínimo;
É
realmente necessária a devida introdução do nosso povo nas Sagradas Escrituras
e na vida Sacramental de nossa Igreja. Mas não podemos perder de vista que
muitos de nossos fiéis sofrem com investidas de pessoas que utilizam de forma
equivoca a Sagrada Palavra de Deus que em vez de servir ao anúncio do Evangelho
se torna meio para ataques e críticas infundadas.
Lançando
um atento olhar para esta situação cada vez mais delicada em nossas paróquias a
nossa Igreja deve oferecer uma Escola da Fé que atenda a questões tidas como
polêmicas, a exemplo das imagens, os santos, o papel de Maria na vida da
Igreja, o batismo de crianças e outros temas.
e. Cebi e Círculos da Palavra
Todos os
subsídios bíblicos para a Escola da Fé podem ser retirados dos valiosos
subsídios do Cebi. Então a Escola da Fé no que diz respeito à Sagrada
Escritura, vem também para ampliar o campo de atuação do Cebi. Como grande
fruto do módulo bíblico seria o fortalecimento dos Círculos da Palavra. Estes
círculos devem dar um passo a mais: chegar a pequenos núcleos que estudem a
Sagrada Escritura nas casas e de uma forma mais desafiadora nos apartamentos.
f.Catecumenato;
A
experiência do Catecumenato, bastante conhecida e divulgada na Arquidiocese da
Paraíba, apresenta como primeiro passo o Encontro com Jesus. Constituindo-se um
verdadeiro itinerário catequético. Esta experiência pode ser assumido para uma
catequese de adultos a nível de Arquidiocese.
g. Necessidade de uma Equipe Arquidiocesana de Formação;
Todas as
propostas acima apresentadas devem ser antecedidas pela criação de uma Equipe
Arquidiocesana de Formação. Esta equipe tem por função dar os devidos
encaminhamentos para o que acima foi apresentado, a melhor forma de fazer
acontecer em cada região o que se propõe como itinerário formativo.
A esta
equipe também cabe a missão de promover unida a coordenação arquidiocesana de
catequese, a unificação dos subsídios relativos à celebração da Palavra por
ministros leigos, à formação para os Sacramentos da Primeira Eucaristia, Crisma
e preparação para o Batismo, bem como a elaboração de subsídios para a
perseverança, pré-catequese que deve ser assumida como realidade
arquidiocesana.
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