sexta-feira, 29 de março de 2013

Jesus, o Deus ajoelhado e indefeso






A celebração do Lava- pés é um testamento. Um testamento em ato daquilo que Jesus espera que seus seguidores consigam fazer em vista de um mundo melhor. Em um mundo marcado pela tirania dos poderosos, pelo desrespeito aos pequenos, pelo menosprezo da vida, faz-se necessário uma retomada de valores capazes de alimentar sonhos de paz e concórdia. O Evangelho mostra a soberania de Jesus que tudo recebeu do seu Pai, dele havia saído e para ele passaria. Este passar para o Pai é um jeito que o Evangelista encontrou para falar sobre tudo o que viria a acontecer na ótica de uma nova Páscoa. A Páscoa de Jesus é assinalada em seu sangue. No seu sangue encontramos a comunhão com Deus. Os primeiros versículos antes de falar realmente do lava- pés é um tipo de introdução para a segunda parte do Evangelho iniciada justamente com este gesto. O autor deixa claro para nós que tudo deve ser lido na ótica do amor: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim!” Ao mistério do Amor de em Deus que apaixonado vive sua paixão na entrega à humanidade se opõe o desejo do traidor: “O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus.” Ainda falaremos sobre o traidor novamente, já que temos uma postagem sobre ele neste mesmo blog. Mas o que se quer deixar claro é o fato de tudo se resolver no coração das pessoas. Não imaginemos que o diabo espiritualmente entrou em Judas. O que acontece é outra coisa, o diabo quer dizer divisor. O coração dividido de Judas se tornou tão distante com o passar do tempo a ponto de não mais reconhecer o amigo Jesus. Esta magnífica dinâmica do amor de Deus que se encontra com a dureza de coração da humanidade ganha mais consistência quando se afirma que tudo está acontecendo dentro dos liames da liberdade de Jesus: ele sabe o que está fazendo, ele o faz por amor e por coerência de fé em Deus. É expressa para nós também a fé de Jesus, um dado pouco trabalhado e por sinal necessário! Esta autonomia é expressa assim:
Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava”. Do alto de sua singular liberdade, agora encontraremos expresso para nós, com toda aspereza possível, o alcance do amor de Deus revelado em seu filho. Primeiro: “Jesus levantou-se da ceia”. Isto revela aquele que se levanta é diferente, tem as rédeas de toda a situação em suas mãos.
Segundo: “tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a a cintura. Derramou água numa bacia” Tirar o manto é despojar-se. Lembremos-nos de Fl 2, 5-11: sendo igual a Deus não se apegou a isto, mas esvaziou-se. O amor incondicional de Jesus é despojado de privilégios e aqui encontramos uma oposição a muitas de nossas atitudes religiosas porque somos apegados demais a privilégios que nada tem a revelar sobre Jesus!
Terceiro: “pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura”. Apenas a mulheres e os escravos faziam este serviço no tempo de Jesus. Eis a radicalidade do amor: despojado dos privilégios, mostra-se como serviço! Isto para nos dizer que nossa fé não se converter em serviço, de nada serve, pode ser um culto muito bem realizado, bonito. Entretanto, não passará de estética! Sem conteúdo e incapaz de dizer algo aos homens.
Quarto: Jesus se ajoelha para lavar os pés dos discípulos. Quem está de joelhos e com uma bacia na mão nem tem como fugir, nem tem como reagir caso seja atacado. Este é Jesus o Deus ajoelhado, o Deus humilde, o Deus que se torna indefeso por amor de cada um de nós. Neste gesto vemos outra coisa fulgurar: na mesma bacia, com  a mesma água com a mesma toalha, com a mesma atenção e carinho, Jesus lava os pés do discípulo amado e também do traidor.
Daqui percebemos que o amor não conhece limites, não faz distinção nem é preconceituoso. Tanto o amado quanto o traidor são atingidos pelo mesmo jeito de amor e nossa oração hoje deve levar em conta que muitos daqueles que nós erroneamente julgamos, são tão amados por Deus quanto qualquer um de nós e que está numa Igreja não quer dizer muita coisa se não tivermos um amor incondicional a Deus convertido em serviço aos irmãos, se não tivermos um amor humilde, despojado de privilégios e de poder, aberto a todos, e sempre propondo a reconciliação. Muitos entre nós são os amados, e outros tantos são os traidores, todos no entanto, abraçados pelo mesmo amor. E isto revela para nós que Jesus em seu jeito de ser revoluciona nossas relações, deseja revolucionar nossas relações sempre. Encerro deixando que o mestre mesmo nos fale:
“Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós”.

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