segunda-feira, 2 de abril de 2012

Homilia do Domingo de Ramos - Parte II


Nenhum batizado deveria se esconder da Semana Santa, semana que é Santa na medida em que permitimos a Jesus nos santificar com sua vida! Mas muitos batizados farão desta semana somente mais uma semana de monotonia, de bebedeira e de carnaval fora de época que só serve para alimentar a ganância, instigar os jovens à prostituição e beneficiar políticos que tem muitos interesses, menos o bem estar e a civilidade do povo! Vivemos o mesmo contexto em que Jesus viveu: opressão – agora cultural – pois somos todos obrigados a engolir o lixo de baixo nível produzido pela mídia. Essa opressão refere-se à falta de educação, e também falta de saúde, de moradia digna com redes de esgoto, falta de alimento, falta de futuro para os jovens, incentivo à violência já entre as crianças e desrespeito aos idosos. Vivemos um tempo de escárnio e zombaria com o sagrado, Deus é assunto que não chama a atenção, Jesus é até considerado interessante, entretanto, não se quer seguir uma pessoa que apresente a humildade como sinal de vitória, porque a propaganda e muitas vezes as religiões se tornaram comércio sagrado, no qual a imagem de pregadores chama mais a atenção do que a palavra de Jesus, no qual também o demônio muitas vezes é mais valorizado que o próprio Jesus porque os mercadores do Sagrado sabem que o medo mantêm igrejas lotadas com um povo alienado, escondido de seu futuro e sem coragem para enfrentar suas próprias criações monstruosas. Este é um tempo ainda no qual a própria missa corre o risco de se tornar espetáculo e o povo corre as léguas atrás de padres e não de Cristo! Caravanas e mais caravanas em busca de Missas intituladas de cura, o que na verdade, termina por colocar os nossos interesses acima da Eucaristia! Estes não estão seguindo Jesus, podem até estar à sua frente como nos alerta o Evangelho, todavia, os que se colocam à frente de Jesus e tentam dizer o que Jesus deve dizer são chamados por ele de Satanás! Vai para trás, Satanás, porque não pensas como Deus e sim como os homens.  São estes que pedem a crucificação de Jesus em um julgamento injusto, sem direito à defesa, sem testemunhas, simplesmente como manobra para apagar da história alguém que incomoda.                                            

O julgamento de Jesus é sinal da injustiça deste mundo, ao mesmo tempo em que é sinal de que Deus ama tanto o mundo que se submete a entregar seu filho nas mãos dos malfeitores para salvar os condenados que somos todos nós. Sem Jesus estaríamos todos condenados, a cruz sem Cristo é maldição, mas ele faz da maldição cura: Assim como Moisés ergueu a serpente de bronze no deserto, é necessário que o Filho do Homem seja erguido. Ele é julgado por nós, a maldição que deveria cair sobre nós, cai sobre ele. Justo e santo, não teme o escárnio por conta de seu amor, uma vez que quanto maior é o amor, maior será a ferida da compaixão. Jesus se compadece de nós e por nós se entrega. Da parte dos homens há um jogo mesquinho de poder, em tudo no julgamento de Jesus vemos transparecer a força perniciosa do pecado que tudo corrompe, que tudo deseja para si que a tudo torna sujo! Assim são as autoridades que julgam o Filho de Deus! A hipocrisia das autoridades religiosas, a fraqueza de um político. O Filho de Deus é julgado por malfeitores! E silencia pois o Pai é aquele que fará justiça! A sua causa se encontra nas mãos do Pai! Enfim, o próprio povo condena Jesus. Escolhe Barrabás, isso demonstra a incapacidade que as pessoas tem se de livrarem de seu falso senso de justiça, porque Jesus é o profeta da Paz, Barrabas é o criminoso! E em uma sociedade violenta e prostituída somos muitas e muitas vezes tentados a acreditar que justiça se faz com as próprias mãos, é aí que apoiamos atitudes de execução sumária de jovens, começamos a dar o direito a uma minoria para que derrame sangue já que a justiça não acontece. Jesus, o justo, que é vítima da violência e da injustiça deveria nos despertar outro sentimento: diante do desejo dos homens em tirar a vida uns dos outros, deve prevalecer o mandamento da lei de Deus que nos diz ‘não matar’ como já bem falava Dom Oscar Homero. O povo Prefere o criminoso, a ele aclamam e condenam Jesus à morte de Cruz. A cruz é um escândalo. Todavia é o único fato do qual um cristão deve se gloriar (Gl 6,14). Como assimilar e até se gloriar de um escândalo? Isto só é possível se olharmos para a cruz como um evento da Trindade. É o Pai quem toma a iniciativa (2Cor 5,18). Esta iniciativa da reconciliação é concretizada pelo Filho e a prova de sua efetividade é o Espírito Santo (Rm 8, 1.6; 9,10). Por este motivo é que no Gólgota se realiza o único sacrifício de eficácia absoluta (Hb 7-9). Todos os demais sacrifícios neste se cumprem e são superados. No acontecimento da cruz fica patente que Deus não tolera o pecado. Ele não pode amar o pecado e o mal se encontra em total contradição com a natureza divina; Por isso, Deus não pode perdoar o pecado sem expiação. A pura anistia é ignorância do mal, a qual diminui a gravidade do pecado ou mesmo lhe reconhece o direito de existência. É essa ira divina encontrada em todo o Antigo Testamento que Jesus deve levar à plenitude em sua Paixão. Eis a outra face da moeda do amor, pois amar o bem não seria possível sem a luta contra o mal e a injustiça.                

A cruz do Filho é revelação do amor do Pai (Rm 8,32; Jo 3,16) e a efusão do sangue deste amor se realiza interiormente, mediante a efusão de seu comum espírito no coração dos homens (Rm 5,5).  Para que isto aconteça, é necessário que diante de Jesus pregado na cruz, haja uma crescente de abandono: os discípulos o abandonaram, o povo que entra com ele em Jerusalém, escolhe outro e o condena, os religiosos do seu tempo, tramam contra ele, o representante do império se omite. Jesus é nesse momento um abandonado, o povo que passa vira a cabeça e zomba dele! Ironiza sua situação. Tantos de nós estão abandonados hoje, irmãos e irmãs, tanto sofrimento se faz presente no mundo. E a cruz de Jesus deve nos mostrar que Deus nos amou tanto que nos deu seu ÚNICO Filho. Quem dentre os presentes é pai e mãe, conhece seu amor por seus filhos, imagine, tente imaginar a imensidão de um amor que faz com que um pai entregue seu Filho único para resgatar os criminosos. Essa presença do crucificado deve apagar nossa solidão porque Jesus em seu amor, sente-se abandonado até pelo Pai a quem ele tanto ama! Este abandono sentido pelo Filho é o que há de mais profundo porque assim, conhecendo a dor de ser abandonado, Jesus se compadece com os abandonados de todos os tempos. No abandono de Deus que o crucificado conheceu, reconhecemos que fomos libertados do abandono Deus; situação que não poderíamos evitar por nenhum esforço próprio separado da Graça. Mas esta visão da cruz nos impede de passar por cima dela e a pavorosa realidade do sentir-se abandonado por Deus nos revela com toda claridade que o inferno não é uma ameaça educativa ou uma mera ‘possibilidade’, mas sim que é a realidade que conhece de modo eminente o abandonado por Deus, pois ninguém pôde experimentar, nem sequer aproximadamente, um abandono tão terrível como o do Filho, eternamente unido, de modo essencial, com o Pai Eterno. De forma pormenorizada se encontra nos Evangelhos o relato do que aconteceu na cruz. Assim sendo, o grito de abandono na cruz apresenta o abandono do Filho por parte do Pai; abandono este que, sendo aquele que o sofre como homem o próprio Deus, é um abandono absoluto e, por conseguinte, medida absoluta do abismo.    

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