sexta-feira, 15 de abril de 2011

Por uma Espiritualidade da Cruz - Parte II

No final da tarde, quando as luzes do sol esmorecem, é o próprio Jesus quem explica para os seus seguidores o sentido das Escrituras: “Ó gente sem inteligência! Como sois tardos de coração para crerdes em tudo o que anunciaram profetas! Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?” (Lc 24,25-26). Os dois discípulos envolvem-se de tal forma na conversa, que seus corações ardem de entusiasmo e começam a se encher de esperança. Finalmente, reconhecem o Senhor ao partir do pão, naquele momento que identificamos como uma celebração eucarística. Jesus vem consolar e confirmar na fé, durante a hora mais terrível de crise daquelas duas pessoas. Depois desaparece, deixando, como marcos da sua presença, os gestos e palavras que suscitam em nós um ardor de ordem transcendente...
“Quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,32). A forte expressão deste versículo resume a obra redentora de Cristo, na qual se fundamenta a missão de cada um de seus seguidores. No seu ato de união à Cruz, São Paulo afirma: “O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24). A Paixão de Cristo é, evidentemente, completa em si. Mas cada um de nós precisa aceitar sua própria participação nela. Esta aceitação Jesus não pode assumir por nós, porque temos a liberdade e a necessidade da adesão da fé e da confiança. Se olharmos nossa própria experiência, quando é que isto acontece? A vida está cheia de cruzes. De ordem física - dores, doenças e a própria morte; de ordem moral - pecados e falhas cometidas e, também, humilhações e injustiças recebidas. Isto tudo faz parte do Mistério da Cruz, até mesmo a aparente incógnita do sofrimento dos inocentes, como o das crianças. Como explicá-lo? Cada uma delas está seguindo a morte do próprio Cristo, está completando, da sua parte, o quinhão que cabe a cada um de nós na Paixão de Nosso Senhor, na solidariedade que nos une a Ele e aos demais. Mesmo nas situações mais gratificantes, como o relacionamento e o convívio com os outros e o trabalho pastoral, não estamos imunes às decepções e desilusões. Nós esperávamos... assim falavam os discípulos de Emaús. Mas depois que encontraram Jesus, o que esperavam ou queriam passou a ser secundário. Deus deseja que colaboremos com o seu plano de amor, e não que lhe imponhamos nossas perspectivas. Acima de tudo, que a sua vontade se faça e, quem sabe, de vez em quando, a nossa, se coincidir com a d’Ele, naturalmente. Entretanto, em nenhum momento pode faltar a esperança. Pois, “então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade” (Mt 24,30). “Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (Ap 21,3-4).
Não se pode querer afastar a Cruz do nosso cotidiano, ou subtraí-la à nossa realidade. As cruzes dos cemitérios estão aí, apontando para Deus e para os irmãos. Nós mesmos somos feitos em forma de cruz, ou melhor, a nossa envergadura moldou o formato da cruz, como lógica do nosso existir.
Portanto, que o nosso sinal seja sempre o Sinal da Cruz, em todos os momentos.  Ao final de nossa caminhada, possamos todos repousar nos braços de Jesus Cristo, que penderam da Cruz para nos salvar e se abrirão para nos acolher no seu eterno convívio feliz.

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