domingo, 17 de abril de 2011

A Cruz do Senhor - parte IV

Diante de Jesus pregado na cruz, temos a visão conclusiva de uma linha crescente de abandono: os discípulos o abandonaram, o povo que entra com ele em Jerusalém, escolhe outro e o condena, os religiosos do seu tempo, tramam contra ele, o representante do império se omite. Jesus é nesse momento um abandonado, o povo que passa vira a cabeça e zomba dele! Ironiza sua situação. Tantos de nós estão abandonados hoje, irmãos e irmãs, tanto sofrimento se faz presente no mundo. E a cruz de Jesus deve nos mostrar que Deus nos amou tanto que nos deu seu ÚNICO Filho. Quem dentre os presentes é pai e mãe, conhece seu amor por seus filhos, imagine, tente imaginar a imensidão de um amor que faz com que um pai entregue seu Filho único para resgatar os criminosos. Essa presença do crucificado deve apagar nossa solidão porque Jesus em seu amor, sente-se abandonado até pelo Pai a quem ele tanto ama! Este abandono sentido pelo Filho é o que há de mais profundo porque assim, conhecendo a dor de ser abandonado, Jesus se compadece com os abandonados de todos os tempos. No abandono de Deus que conheceu o crucificado, reconhecemos que fomos libertados do abandono Deus; situação que não poderíamos evitar por nenhum esforço próprio separado da Graça. Mas esta visão da cruz nos impede de passar por cima dela e a pavorosa realidade do sentir-se abandonado por Deus nos revela com toda claridade que o inferno não é uma ameaça educativa ou uma mera ‘possibilidade’, mas sim que é a realidade que conhece de modo eminente o abandonado por Deus, pois ninguém pôde experimentar, nem sequer aproximadamente, um abandono tão terrível como o do Filho, eternamente unido, de modo essencial, com o Pai Eterno. De forma pormenorizada se encontra nos Evangelhos o relato do que aconteceu na cruz. Assim sendo, o grito de abandono na cruz apresenta o abandono do Filho por parte do Pai; abandono este que, sendo aquele que o sofre como homem o próprio Deus, é um abandono absoluto e, por conseguinte, medida absoluta do abismo.  Este grito de Jesus é uma seta ao que há de mais singular na Paixão de Jesus: a revelação do Esvaziamento divino. A morte de Jesus na cruz é acompanhada de uma série de acontecimentos. Estes fatos podem ser analisados a partir de dois pontos. O primeiro diz respeito ao mundo e o segundo a pessoa de Jesus. Todo o mundo foi sacudido em seus fundamentos pelo que aconteceu na cruz. Os três primeiros evangelhos falam da imagem do obscurecimento da terra que longe de representar a tristeza da terra com o acontecido, explicita o luto do Pai pelo Filho único como se encontra em Zc 12,10. É a tristeza do próprio Pai. Somente Marcos e Mateus falam de rasgões ocorrido no Templo: no relato de Mateus há uma seqüência muito harmônica nos acontecimentos: após a morte de Jesus ocorre um terremoto e este acarreta o despedaçamento das rochas e este a abertura dos sepulcros e, conseqüentemente, o escancaramento do mundo dos mortos que, em presença desta morte na cruz, deve entregar seus prisioneiros, por isso escutamos dizer que os santos foram vistos após a ressurreição de Jesus. Estes sinais demonstram que “verificam-se na natureza os sinais do juízo, mas também os sinais da destruição das portas do inferno, pois abertas as portas da morte por Cristo que morre, poderá penetrar e descer a luz da Redenção.” Relativo à pessoa de Jesus dizem respeito com mais exatidão ao seu esvaziamento, porque aquele que é de tudo o Senhor, morre como todo homem morre, é sepultado como todo ser humano o é! Mergulhados que fomos no Mistério do Cristo que entrega sua vida no altar da cruz, preparemos o nosso coração que nesta noite foi aberto, para que ele reine em nossa vida e nos conduza a uma vida de ressuscitados em seu amor e em sua paz!





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