quarta-feira, 9 de março de 2011

Homilia da Quarta Feira de Cinzas - Continuação

O exercício da oração indica todas as formas de relacionamento pessoal com Deus. Pela oração entramos em comunhão com Deus, diante de quem nos reconhecemos criaturas e filhos. A oração humilde e confiante é expressão de verdadeira adoração de Deus, que deixa de ser um princípio abstrato, ou uma força cósmica da qual nos queremos apossar e passa a ser reconhecido como um tu pessoal, a quem ouvimos, com quem falamos, que adoramos e louvamos e a quem recorremos com confiança filial. Jesus rezou e ensinou a rezar. Sem oração, a vida cristã torna-se abstrata e corre o risco de se converter num extenuante esforço pessoal de busca da perfeição ética sem esperança nem alegria. A oração autêntica é reconhecimento que só Deus é Deus e que somos apenas criaturas. A oração decorre do primeiro e mais importante mandamento da lei de Deus.

Quem foi à escola recorda que os "exercícios" são parte importante do aprendizado. A vida cristã é dom e graça, que acolhemos com muita alegria e gratidão; mas também é exercitação diuturna, que requer empenho e perseverança. De fato, ninguém está livre de tentação e pecado, de retrocesso e abandono do caminho de Jesus Cristo. Os exercícios quaresmais, transformados em virtude, nos tornam fortes na fé e eficientes nas obras boas, como convém a filhos e filhas de Deus. O que a oração pede, o jejum alcança e Caridade recebe. Oração, misericórdia (caridade), jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente. O jejum é a alma da oração e a Caridade dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas. Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; e em um país de tantas misérias, somos convidados por Cristo a olhar para tudo aquilo que afeta a vida de nossos irmãos e irmãs sob pena de não sermos acolhidos por Cristo se não acolhermos os irmãos (Mt 25, 31-46). Em uma sociedade que pôs o lucro acima de todas as coisas, somos convidados a agirmos com Misericórdia para podermos alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça porque não pode existir verdadeira religião onde não há espaço para a compaixão com quem sofre, com o planeta inteiro. Quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

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